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ENCONTRO MARCADO RAPIDINHO Dá pra acreditar? A "Morte" decide conhecer um pouco do mundo dos simples mortais e para isso encarna em Brad Pitt, que exibe a pior pintura de cabelo da história do cinema. O moço se apaixona pela filha do magnata que lhe serve de cicerone (e a quem deve levar para a eternidade). É duro... Mas funciona! É claro que, antes de qualquer coisa, o espectador precisa compreender que o filme é um conto de fadas para adultos, com uma profundidade filosófica que se aproxima, digamos, de "Cinderela". Mas, ao contrário de tantas bobagens de Hollywood, "Encontro marcado" tem uma profunda unidade dramática, tem um roteiro recheado de momentos inteligentes e tem, principalmente, um corajoso desprezo pela altíssima velocidade narrativa que caracteriza nove entre dez filmes americanos. Com quase três horas de duração, o filme teria maior sucesso comercial com uns trinta ou quarenta minutos a menos. E provavelmente deixaria de ser um bom filme. AGORA COM MAIS CALMA Há defeitos. Vários. E não só no cabelo do protagonista. Há uma coincidência da pior espécie, bem no início do filme. Há o confronto bastante constrangedor entre um dos maiores atores da história do cinema (Anthony Hopkins) e um jovem esforçado que parece estar sempre saindo de um comercial de pasta de dente (Brad Pitt). Mas "Encontro marcado" supera isso tudo. Na verdade, o próprio Brad Pitt, que nas primeiras seqüências realmente assusta, pouco a pouco torna-se menos intragável, e no final até convence. Isso é bem comum. Atores talentosos viram canastrões em filmes mal realizados. Por que não o contrário? Outro acerto da direção de Martin Brest é fazer da "Morte" um personagem ao mesmo tempo poderoso e infantil, descompromissado com as relações sociais, mas dono de uma polidez antiquada, atemporal. Brad Pitt sabe sorrir e ser simpático. Quase sempre, isso basta. Mas por que, afinal das contas, gostei de "Encontro marcado"? Por que, na saída do cinema, lembrei de "O sétimo selo", de Bergman, uma obra-prima sobre a morte (e a vida, é claro), e não do abominável "Ghost"? Talvez porque Brest tenha feito um filme autoral, com algumas concessões, mas muito menos concessões que a média de seus colegas empregados dos grande estúdios. Talvez porque a atriz Claire Forlani tenha me conquistado (assim como a todos os homens vivos da platéia), com uma beleza e um talento tão consistentes quanto inesperados. Talvez porque Anthony Hopkins tenha conferido ao seu personagem uma grandeza quase épica. Talvez porque os coadjuvantes sejam também atores extraordinários. Talvez porque a fotografia e a cenografia sejam impressionantemente bonitas. E talvez porque o filme lance mão de todos os truques baixos para arrancar emoções da platéia, mas estes truques estão bem escondidos e funcionam. Além disso tudo, "Encontro marcado" tem uma das melhores seqüências do ano: logo no começo do filme, os personagens de Brad Pitt e Claire Forlani se conhecem e se apaixonam numa cafeteria de Nova Iorque. Mas se despedem logo depois, sem trocar telefones, e caminham em direções opostas. Ambos sabem que estão perdendo uma ótima chance, que basta olhar para trás e admitir que alguma coisa importante aconteceu entre elas. Mas sempre olham no momento errado, quando o outro está de costas. É uma cena clássica, porque nem a literatura, nem o teatro, nem qualquer outra forma narrativa, poderia contar aquela ação melhor do que o cinema. E então, quando tudo está perdido... Assistam ao filme, amigos do ZAZ. Deixem-se levar pelo conto de fadas. E não esqueçam que a "Morte" não sabe muitas coisas sobre pintura de cabelos. Encontro Marcado (EUA, 1998). De Martin Bresy. Com Brad Pitt, Anthony Hopkins, Claire Forlani, Jake Weber e outros. Dê sua opinião ou cale-se para sempre
Carlos Gerbase é jornalista e trabalha na área audiovisual, como roteirista e diretor. Já escreveu duas novelas para o ZAZ (A gente ainda nem começou e "Fausto") e atualmente prepara o seu terceiro longa-metragem para cinema, chamado "Tolerância".
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