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Amor à flor da pele
De
Wong Kar-wai



RAPIDINHO
Os primeiros dez minutos criam uma boa expectativa: parece que assistiremos a um filme original, delicado, provocativo, sobre o amor complicado entre um homem e uma mulher, ambos casados, que são vizinhos de porta e estão sendo traídos pelos seus respectivos cônjuges. Wong Kar-wai coloca a câmara em locais pouco usuais, sabe escolher a trilha e está se lixando para o ritmo ocidental de fazer cinema. Mil pontos pra ele... nos dez primeiros minutos. Porque, nos próximos oitenta, Amor à flor da pele vai caindo, vai ficando chato e, principalmente, vai revelando todo o seu vazio narrativo.

AGORA COM MAIS CALMA
Esse negócio de botar o ator fumando um cigarro atrás do outro e a atriz botando um figurino atrás do outro já era velho no final da década de 60. Kar-wai já ganhou a Palma de Ouro e pode ser o queridinho da crítica, mas, sinto muito, esse filme não passa de um exercício estéril de preciosismo estético. O amor é mesmo complicado, em qualquer cultura, e a idéia era demonstrar como essas complicações tornam infelizes um homem e uma mulher na década de 60 em Hong Kong. Eles estão apaixonados um pelo outro e têm uma excelente justificativa para viverem esse amor, já que seus companheiros, aparentemente, fugiram juntos para namorar. Mas há uma imagem de respeitabilidade a preservar, e muita fofoca para enfrentar. Belo argumento. Kar-wai, contudo, está pouquíssimo interessado no roteiro, na história a ser contada, nas motivações de seus personagens. Kar-wai está interessado, basicamente, em duas coisas: na colocação da câmara e nos figurinos de sua atriz. E isso acaba ficando muito chato. No início do filme, a câmara diverte-se escondendo alguns personagens importantes, e essa diversão pode ser compartilhada pelos espectadores. No final, esse joguinho está tão manjado que, a cada plano de nuca, dá vontade de pegar o tripé e levar pra outro lugar qualquer. Algumas "imagens estéticas", principalmente detalhes de pés, também são absolutamente dispensáveis. Kar-wai, resumindo tudo o que já foi dito, está mais interessado em brincar de cinema do que em fazer um bom filme. O cansaço é inevitável no último terço do filme. Quando a trilha principal recomeça pela décima vez, quando a câmara lenta é utilizada pela enésima vez, quando a atriz muda de figurino pela milionésima vez e o ator acende seu bilionésimo cigarro, dá vontade de gritar: chega de frescura! Chega de "arte"! Conta logo essa história, que eu tenho mais o que fazer.

Amor à flor da pele (França, Hong Kong, 2000). De Wong Kar-wai


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Carlos Gerbase
é jornalista e trabalha na área audiovisual, como roteirista e diretor. Já escreveu duas novelas para a Terra Networks (A gente ainda nem começou e "Fausto"). Atualmente finaliza seu terceiro longa-metragem, Tolerância, com Maitê Proença e Roberto Bomtempo.

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