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Louise (Take 2)
De
Siegfried






RAPIDINHO
Retrato de um grupo de amigos que vivem no metrô de Paris, perambulando sem destino definido. É um retrato realista, realizado com a câmara na mão, bons atores, bons diálogos, boa música e alguns recursos plásticos muito interessantes, que o distanciam da radicalidade naturalista do Dogma 95 e o aproximam da tradição experimental francesa. Louise, a personagem principal, a partir de uma nova paixão, consegue libertar-se um pouco do cotidiano e pensar sobre sua condição existencial, o que a leva a uma crise.

Os méritos do diretor Siegfried são claros: personagens e cenários estão organicamente ligados, e a narrativa tem a redundância necessária para expressar vidas que são dramáticas, mas numa perspectiva muito diferente da que os filmes hollywoodianos costumam utilizar. Em Louise – Take 2, o espectador não é alguém a ser conquistado pela história, e sim um visitante temporário de uma realidade ainda simbólica, mas que pretende sustentar-se sem grandes malabarismos de roteiro. Siegfried parece ser um Eric Rohmer vanguardista, disposto a construir um discurso mais acelerado do cotidiano sem perder o carinho pelos detalhes aparentemente insignificantes da vida.


AGORA COM MAIS CALMA
Existem muitos modos de ser marginal. Há os marginais clássicos, aqueles que já nascem em condições sociais tão precárias que seu único destino possível é tentar sobreviver, sem maiores perspectivas que um prato de comida por dia. O terceiro mundo fabrica milhões de marginais desse tipo. Há os marginais por opção. Estes até poderiam ter uma vida "decente", de acordo com as regras da sociedade, mas conscientemente optam pela marginalidade. Eles pesam os prós e os contras da inserção social, verificam que os prós não valem a pena, constróem sua própria ética e vão para a margem, como criminosos, ou simplesmente vagabundos. E há os marginais por inércia. Eles não estão condenados pela miséria econômica, nem fazem uma opção filosófica, nem são capazes de refletir sobre o tipo de vida que levam. Estes são os personagens de Louise – Take 2. "Alienados", dirão alguns. Mas quem disse que quem trabalha oito horas por dia, é um respeitável chefe de família e tem uma vida tremendamente infeliz não é, na verdade, um grande "alienado"?

O maior mérito de Siegfried é evitar que espectador lance um olhar piedoso sobre os personagens. Eles são apresentados como jovens bem dispostos, cheios de vida, quase sempre alegres. As drogas existem, mas não são o centro de suas vidas. Os crimes acontecem, mas eles parecem mais brincadeiras de crianças. Louise, vivida com extraordinária verossimilhança pela atriz Elodie Bouchez, é uma criatura cheia de amor para dar. Tem tanto que é capaz de atender ao pedido de um mendigo do metrô, que deseja ver seu filho. Ela acha o filho, mas prefere não apresentá-lo ao pai, bêbado e ensandecido. A criança passa a ser um "filho", adotado por ela e por todo o bando.

Numa primeira leitura, poderíamos encontrar em Louise – Take 2 uma espécie de denúncia da destruição do núcleo familiar e da noção de "lar". O pai de Louise é carinhoso, mas está num mundo de faz-de-conta. A criança adotada tem um pai mendigo. E o grupo de amigos, com toda certeza, não almoça aos domingos com as respectivas famílias. Mas Louise define o seu mundo como uma espécie de formigueiro, em que há atividade incessante, amigos que devem ser amados e inimigos que devem ser evitados. E formigas não pensam em seu cotidiano, simplesmente vivem. Assim, Louise – Take 2 escapa com folga da simplificação "coitadinhos, eles são crianças abandonadas" para uma reflexão mais profunda e mais séria.

Louise, no momento em que percebe, minimamente, o fascismo do namorado idiota e o que está fazendo com sua vida, decide libertar-se, passando primeiro por um estágio mais profundo de marginalidade, sem procurar o pai nem os amigos de sempre, enfrentando os olhos enlouquecidos do mendigo, encarando, pela primeira vez, sua própria existência sobre a Terra. Isso dói. Louise está abandonando a segurança de uma vida sem sentido, em que as escolhas são sempre fáceis, por uma esperança de felicidade, na figura de um novo amor e, quem sabe, de uma nova relação com o mundo.

Filme amargo e corajoso, Louise – Take 2 tem apenas um defeito grave: a câmara excessivamente móvel, que, se usada com mais parcimônia, continuaria dando ao filme a aura de urgência pretendida, sem causar a vertigem cansativa e o desconforto, efeitos colaterais inevitáveis. Faltou a Siegfried a compreensão de que a velocidade, se é característica fundamental de nossos tempos (e deve estar presente na narrativa), também é, muitas vezes, fator de empobrecimento da dramaticidade. O que faria Eric Rohmer se refilmasse Louise – Take 2?

Louise (Take 2) (França, 1998). De Siegfried


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Carlos Gerbase
é jornalista e trabalha na área audiovisual, como roteirista e diretor. Já escreveu duas novelas para a Terra Networks (A gente ainda nem começou e "Fausto"). Atualmente finaliza seu terceiro longa-metragem, Tolerância, com Maitê Proença e Roberto Bomtempo.

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