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MÁFIA NO DIVÃ

RAPIDINHO

Se você tem bons diálogos e Robert de Niro, as perspectivas são boas. É verdade que você também tem Billy Crystal, que é um bom ator, mas ri de suas próprias piadas (além de ser produtor executivo: isso deve ser um inferno). E aí você lê o nome de Harold Ramis na direção. Ramis dirigiu uma obra-prima da comédia moderna, "O feitiço do tempo", e um fracasso absoluto, "Eu e minhas cópias" (ou algo parecido). Assim, cheio de contradições, "Máfia no divã" parece merecer uma análise profunda, mas, na verdade, sua despretensão é sua maior qualidade. Dá pra rir um pouco, dá pra passar o tempo e dá pra colocá-lo numa estante intermediária, entre o admirável feitiço e os abomináveis clones de Keaton: "Máfia no divã" é um filme divertido, mas muito previsível.


AGORA COM MAIS CALMA

Um chefão do crime nova-iorquino não consegue administrar o estresse provocado por uma guerra de gangues e recorre a um psicanalista. O argumento é (além de idiota) original o suficiente para gerar uma comédia com apelo popular. Isso se o roteiro for esperto. Até certo ponto, é. O grande risco era trancar Robert de Niro no consultório de Billy Crystal e confiar cegamente nas piadas que a situação inusitada permite.

O que fizeram Ramis e os demais roteiristas? Transportaram boa parte da ação para Miami, onde o psicanalista espera se casar com uma repórter de TV, e para onde vai o desesperado chefão, atrás de equilíbrio emocional. Seguem-se momentos de quase pastelão, com direito a casamento interrompido, tiros a esmo e gritos histéricos. O que faz de "O feitiço no tempo" um grande filme é a sua capacidade de, a partir de uma situação fantástica (um dia que se repete infinitamente na vida de um homem), criar uma narrativa em que os personagens são de carne e osso, e em que as ações são plenamente lógicas e verossímeis.

Em "Máfia no divã", a premissa é muito mais realista (com certeza, vários bandidões freqüentam psiquiatras em todo o mundo), mas o desenvolvimento da trama beira a fantasia absoluta. Assim, a comédia perde a sua força dramática e necessita, a todo momento, apelar para os chavões do gênero.

Ao que parece, Ramis está fazendo suas concessões aos estúdios. Em "O feitiço do tempo", trabalhou com um ator não-estrelar (Bill Murray) e um orçamento médio. Depois, com Michael Keaton e muitos efeitos especiais, afundou. Agora, com De Niro e Crystal (e muito mais dinheiro), conseguiu realizar divertimento inteligente, mas não conseguiu sair do lugar-comum. Talvez nem queira. O que é uma pena. De bons artesãos, o cinema americano já está bem cheio.

Máfia no Divã (Analyze This, EUA, 1998). De Harold Ramis

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Carlos Gerbase é jornalista e trabalha na área audiovisual, como roteirista e diretor. Já escreveu duas novelas para o ZAZ (A gente ainda nem começou e "Fausto"). Atualmente finaliza seu terceiro longa-metragem, Tolerância, com Maitê Proença e Roberto Bomtempo.

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