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DA MAGIA À
SEDUÇÃO
RAPIDINHO
Comédia sem graça sobre
duas irmãs (Sandra Bullock e Nicole Kidman, ambas em péssimas atuações)
com poderes mágicos. Os erros do filme começam no roteiro (medíocre e
previsível), continuam na direção (desaproveitando até o talento da veterana
Diane Wiest) e terminam na montagem (sonolenta e sem ritmo, o que é mortal
para qualquer comédia). Isso sem contar com uma trilha sonora que enfileira
aquelas abomináveis canções românticas americanas. Enfim, "Da magia à
sedução" deveria chamar-se "Da estupidez ao sono".
AGORA COM MAIS CALMA
O que explica que os
Estados Unidos consigam exportar um filme tão abominável como este, em
que tudo deu errado? E o que explica que alguns milhares de brasileiros
percam seu tempo e seu dinheiro consumindo esse lixo, enquanto centenas
de filmes legais têm imensas dificuldades de chegar às salas? É simples:
"Da magia à sedução" é um exemplo contemporâneo do "star-system", esquema
criado pela indústria americana no início do século e que continua rendendo
seus frutos. Quando o cinema foi criado, os espectadores pagavam para
ver imagens em movimento. Qualquer imagem em movimento: um trem chegando
na estação, um bebê almoçando, dois lutadores se esmurrando, etc. Os irmãos
Lumière chegaram a vaticinar a morte de sua invenção, pois acreditavam
que a novidade de ver as "poses animadas" logo seria suplantada por alguma
outra atração circense. Mas, como sabemos, eles estavam errados.
Primeiro Méliès mostrou que era possível contar histórias com as imagens.
E, logo depois, as histórias passaram a ser contadas através de atores
e atrizes, escolhidos, muitas vezes, mais por seus atributos físicos que
por seu talento dramático (procedimento que continua até hoje, vide novelas
de TV brasileiras). Começaram a surgir as deusas e deuses de Hollywwod.
Mary Pickford, Rodolfo Valentino, Douglas Fairbanks, Greta Garbo e tantos
outros nomes que arrastavam multidões aos cinemas. Multidões que não tinham
o menor interesse de saber quem era o diretor do filme, e sim quem eram
"os artistas". E o "star-system", apesar de todas as revoluções que o
cinema atravessou nesses anos todos, continua forte. Ou alguém está interessado
em saber que o diretor de "Da magia à sedução" chama-se Griffin Dunne,
mais um ator que deveria ter ficado na frente das câmaras?
"De Sandra Bullock a Nicole Kidman" também seria um bom título para esta
gororoba. Mas Sandra Bullock, que tenta ser uma espécie de Doris Day pós-Vietnã,
não consegue nem ao menos escolher projetos interessantes, ou diretores
minimamente talentosos. Ela fez recentemente "Velocidade máxima 2" (uma
bomba), "Quando o amor acontece" (outra bomba) e agora este "Da magia
à sedução" (bomba ainda mais pesada). Talvez o problema seja o agente
da garota, que só pensa em grana, em vez de ler os roteiros. Mas como
perdoar uma atriz mais experiente e mais versátil como Nicole Kidman,
que andava filmando com Stanley Kubrick? Não tem perdão! Talvez a temporada
que fez na Broadway (em que o "star-system" também funciona, principalmente
se a estrela tira a roupa) tenha desequilibrado um pouco a moça.
Não tem nada mais triste que um filme que tenta ser engraçado e não consegue.
Não tem nada mais anti-climático que um filme que promete efeitos especiais
e não oferece nada além bocejos comuns. Não tem nada mais difícil que
tentar criticar um filme que não tem qualquer ambição cinematográfica
além de ser veículo de estrelas sem brilho, capturadas pelo dinheiro fácil
de um produtor medíocre e sem imaginação. Os truques de "Da magia à sedução"
são de segunda categoria, e os encantos de suas protagonistas, desta vez,
não seduzem nem aos seus fãs mais exacerbados. Mais um filme descartável
para ser esquecido. Se dependesse de Griffin Dunne, o vaticínio dos irmãos
Lumiére teria se concretizado.
Da Magia à Sedução (EUA, 1998). De Griffin
Dune.
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sua opinião ou cale-se para sempre
Carlos
Gerbase é
jornalista e trabalha na área audiovisual, como roteirista e diretor.
Já escreveu duas novelas para o ZAZ (A
gente ainda nem começou e "Fausto")
e atualmente prepara o seu terceiro longa-metragem para cinema, chamado
"Tolerância".
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