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MONELLA, A TRAVESSA
RAPIDINHO Você quer uma história coerente? Esqueça. Você gosta de personagens verossímeis? Desista. Você espera que um filme erótico tenha uma certa elegância narrativa? Espere sentado. Você procura mulheres misteriosas? Não vai achar. "Monella, a travessa" é simples, quase sempre simplório, lembrando muito as velhas porno-chanchadas brasileiras da década de 70. Mas você quer conhecer uma atriz com a energia sexual de três Itaipus? Então respire fundo e mergulhe nessa Monella. Anna Amiratti estréia no cinema com tamanha desinibição, com um sorriso tão franco e sensual, que certamente vale o preço do ingresso. AGORA COM MAIS CALMA Falando sério: o filme é muito ruim. É ruim de doer. Tinto Brass já esteve mais inspirado, como em "Calígula", "A chave" e "Miranda". Talvez ele tenha desistido definitivamente de ser levado a sério como cineasta. Seu erotismo, agora, é uma sucessão de cenas pouco mais dramáticas que qualquer vídeo pornô. Bem que ele ainda se esforça e tenta disfarçar, usando movimentos de câmara complicados, imagens refletidas em espelhos e alguns cenários sofisticados, mas é inútil: um filme ainda é uma história a ser contada. E a história de "Manolla, a travessa" é pior que gibi da Barbie. Uma jovem mulher, transbordante de sensualidade e ainda virgem (o que já é uma contradição, mesmo na década de 50), vai casar com um padeiro. O padeiro não quer transar com ela antes do casamento, por motivos pouco explicados (não, ele não é homossexual). Monella, então, passa o filme todo tentando saciar sua fome de sexo. Um de seus alvos é seu próprio pai (que talvez não seja mesmo o seu pai, o que também não fica muito bem explicado, mas não faz muita diferença). Assim, temos Monella numa sucessão ininterrupta de cenas de sexo, com farta (na verdade, fartíssima) exibição dos atributos físicos da atriz Anna Ammirati. Mas não apenas atributos físicos. Esta Anna tem alguma coisa de especial, que transcende seu corpo e seu sexo, que mistura ingenuidade, sacanagem e uma desinibição completa frente à câmara. Desde os créditos iniciais, em que exibe-se numa bicicleta, o espectador tem a impressão que vale a pena continuar vendo aquele filme (ruim) só para permanecer na companhia de uma mulher que sorri como Marilyn Monroe e tem o corpo de Gina Lollobrigida. Uma mulher que espalha luz sobre o planeta, porque sua existência assegura a continuidade da espécie, num mundo de prostitutas assépticas e sexo pela Internet. Encontrar essa mulher. Deixar que ela brilhe como um sol. Mostrá-la ao espectador com absoluta naturalidade. Estas são as virtudes do velho pornógrafo Tinto Brass, e não são desprezíveis. E, mesmo sem enredo ou suporte estético, "Monella, a travessa" é uma espécie de legado às novas gerações, sintetizado num dos últimos diálogos do filme: "Amor não tem nada a ver com fidelidade". E, no caso, também tem pouco a ver com cinema. Monella, a travessa, de Tinto Brass, Itália, 1997, 99min. Roteiro de Tinto Brass, Barbara Alberti e Carla Cipriani. Com Anna Ammirati, Patrick Mower, Serena Grandi, Mario Parodi, Antonio Salines e Susana Martinkova. Dê sua opinião ou cale-se para sempre
Carlos Gerbase é jornalista e trabalha na área audiovisual, como roteirista e diretor. Já escreveu duas novelas para o ZAZ (A gente ainda nem começou e Fausto) e atualmente prepara o seu terceiro longa-metragem para cinema, chamado "Tolerância".
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