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"Depois do elogio, vem a bodorna", diria meu amigo Dalton Germanos. Por ter passado por cima dos filmes do Oscar, o escriba andou levando uns puxões de orelha de seus leitores mais fiéis. Me comprometo publicamente a assistir O INFORMANTE e À ESPERA DE UM MILAGRE, mas ... depois da estréia de MAGNÓLIA de Paul "Boogie Nights" Anderson. É pirraça mesmo, meus amigos. Afinal, como levar à sério uma Academia que passa batida por Martin Scorcese, Tim Burton, Lars Von Trier, e tantos outros? No ano passado, Terence Mallick foi a grande negligência da premiação. Alguém se lembra de SHAKESPEARE APAIXONADO? E CORAÇÃO VALENTE, então? Falando sério, quais os filmes que ganharam o Oscar principal na década de 90 vão ficar para os anais do cinema. Tirando a excelência de OS IMPERDOÁVEIS de Clint Eastwood, talvez alguém se lembre no futuro do bem intencionado, humanista e meio oportunista A LISTA DE SCHINDLER.
TITANIC será o POSSEIDON de amanhã. Filmes caros, cheios de truques, não duram duas temporadas. Amanhã, alguém vai fazer um filme mais perdulário, mais empetecado, mais perfumado, mais cheio de efeitos especiais, com o galã do momento, a garota mais bonita da festa e ganha vários Oscars. É assim e não muda. Para mostrar que a Academia é democrática, se elege, de vez em quando, um filme médio, aparentemente de exceção, simulacro contestatório que não incomode mais ninguém e se contempla o embuste. É o que vai acontecer esse ano com BELEZA AMERICANA. E sabem porque ele não vai durar dois anos? Porque já foi filmado antes, na época em que a contestação era uma realidade, com o nome de A VIDA SECRETA DE UM MULHER CASADA. Escrito, produzido e dirigido por George Axelrod. Quando foi lançado esse filme, em 1968, foi execrado porque considerado ofensivo. Quase levou a fama de Axelrod de ótimo roteirista (The Seven Year Itch, Bus Stop, Breakfast At Tiffany´s e The Mandchurian Candidate) para o buraco. Axelrod, que possuía o mesmo sarcasmo natural de Billy Wilder (afinal fizeram dois filmes juntos), fez uma obra cínica, à frente do seu tempo, e nunca mais dirigiu. Em homenagem à Axelrod, aí vão algumas sugestões de sites sobre filmes que passaram ou vão passar à quilômetros do Oscar. Antes, a lista de perturbadores de João Carlos Rodrigues: L'âge d'or (Luiz Buñuel) A page of madness (Teinosuke Kinugasa) Fireworks (Kenneth Anger) Orfeu (Jean Cocteau) Scorpio Rising (Kenneth Anger) - Uma obra-prima maldita do horror, agora em vídeo. Em uma das primeiras cartas, comentei a respeito de um dos filmes mais malditos do mundo. Refiro-me a INCUBUS (65), uma obra de arte dirigida por Leslie Stevens, autor também de outro clássico do cinema independente, PROPRIEDADE PRIVADA (Private Property - 60) e do estranho e belíssimo A TERRA QUE AMAMOS (Hero’ s Island - 62). Protagonizado por William Shatner (de Jornada Nas Estrelas), fotografado pelo gênio do preto e branco Conrad Hall, todo falado em esperanto, INCUBUS nunca chegou a ser lançado comercialmente nos cinemas americanos por desinteresse do próprio diretor e produtor. Foram tantas as tragédias que acompanharam a conclusão do filme que Leslie optou por arquivar a sua obra-prima. O ator Milos Milos, que interpreta o Incubus da história, matou a mulher do renomado ator Mickey Rooney e se suicidou em seguida. Ann Atmar, uma das atrizes centrais também cometeu suicídio logo após as filmagens. Tudo isso mexeu profundamente com o diretor Leslie Stevens, cujo primeiro trabalho profissional foi ter roteirizado uma adaptação de Gore Vidal, o ótimo UM DE NÓS MORRERÁ (The Left Handed Gun - 58) de Arthur Penn. Desestimulado pelos revezes absurdos, Stevens se isolou na produção de filmes para televisão (onde criou a talentosa série OUTER LIMITS), abandonando assim, precocemente, uma das mais promissoras carreiras autorais do cinema americano. INCUBUS, o filme, foi recuperado após a morte de Stevens, em 1998, à partir de uma única cópia descoberta na França pelo produtor Anthony Taylor, e lançado em vídeo, em grande escala, pela Amazon. Vale a pena dar uma espiada, endereços abaixo, na opinião entusiasmada de críticos e consumidores. O mínimo que se fala sobre o filme é que se trata de uma revolução no cinema de horror. Julien Green, do Paris Match, afirma categoricamente que se trata do melhor filme fantástico desde NOSFERATU. https://www.amazon.com/exec/obidos/ts/video-glance/B00001U0IX/ref=pm_dp_ln_v_1/104-5313731-9122826 https://www.shatner.com/events/incubus1.shtml https://www.incubusthefilm.com/ Para os fãs de Tinto Brass, o endereço da hora é: https://www.tintobrass.to/ita/trasgredire.html Neste site tudo sobre o último filme do ogro safado, TRANSGREDIRE. Tinto possui um site pessoal, que vale a pena visitar: Em sua biografia é possível descobrir que Brass foi assistente de Alberto Cavalcanti e Roberto Rosselini. Aliás, parece que todos os diretores italianos polêmicos foram um dia colaboradores do mestre Rosselini, assim momo Mister Canibal Ruggero Deodato. O site ainda está em construção e por isso algumas páginas ainda estão vazias ou não respondem. A declaração mais recente do ogro põe mais pimenta na discussão erotismo e pornografia: "Eu estou convicto que erotismo é mais uma questão de estética do que de ética." Cinema Independente, Experimental, Alternativo e outros bichos. Visite o zine eletrônico FULL ALERT FILM REVIEW. Na edição recente, tem Jon Jost, em Roterdã falando de vídeo digital; tem um guia para principiantes no horror italiano; tem o "anti-action filmaking" do diretor John Curran; tem um levantamento do melhor cinema filipino do fim de século; tem entrevista com o diretor Jun Ichikawa. Obrigatório. https://thecity.sfsu.edu/users/XFactor/fw/fw8/0248.html Um histórico completo sobre o cinema de horror italiano, a cargo de David White pode ser visitado nos seguintes endereços: Parte I : https://horror-wood.com/italianhorror1.htm Parte II : https://horror-wood.com/italianhorror2.htm Parte III : https://horror-wood.com/italianhorror3.htm Vale a pena reproduzir, no original, a citação final da última parte do texto de White: "I’m in love with the color red. I dream in red. My nightmares are bathed in red… Red is the color of passion, of joy. Red is the color of journeys into the hidden depths of the subconscious. But above all: red is the color of rage… and violence." - Dario Argento Verdade seja dita, na seara da piração e do merchandising, claro, esses americanos são de amargar. Quem entrar no site da cinemacellar, vai conhecer de perto Joe Christ, um retardatário do "Cinema Of Transgression", que se orgulha de ser considerado "moralmente vazio". O site, do próprio Christ, vende cópias em vídeo de alguns filmes recentes de egressos do movimento, incluindo RED SPIRIT LAKE (94), de Charles Pinion, com Annabel Lee e Richard Kern. Violência e sexo, nada ortodoxos, como ponto de partida para um mergulho no abismo. De Joe Christ, a obra mais conhecida é SEXO, SANGUE E MUTILAÇÕES, um documentário de 40 minutos, quase todo rodado em seu próprio apartamento de Manhattan, em 1994. Entre outras pérolas: estrelas de cinema manipulam seus vários piercings genitais; Mike Wilson, o homem tatuagem, faz demonstrações acuradas de sua intimidade com arames, ossos de animais, martelos e vermes vivos; e David Aaron Clarck, editor da revista Screw e artista performático masoquista, demonstra, com orgulho e detalhadamente para a câmera, como amputou o próprio pênis. Para quem gosta, um prato bem cheio ... Para adquirir, em vídeo, clássicos do cinema independente: cult, avant-garde, mondo, gore, punk, gay, estrangeiros e, pasmem, de Hong Kong (aparentemente, um novo gênero), o endereço é VideoZone. https://www.videozone.net/punk_title_listing.htm Mais um site de cinema, o Inside Film Magazine On Line, com um ótimo calendário mensal de festivais:
Um endereço que se autodenomina "zine of the underground Web", vale a pena ser visitado. Tem a famosa entrevista de Nick Zedd para Jay Bliznick ; tem a arte de Jeff Gillette; tem as famosas fotos de efebos nus de Steph Gorkii; tem a subversão do kitsch na pintura de Beth Love (excepcional); tem um fantástico ensaio conspiratológico de Marian Kester; e tem uma pá de links sub-culturais para os vanguardistas xiitas. https://www.pugzine.com/core.html Mais um bom endereço sobre cinema ("com atitude"), é o fanzine eletrônico e semanal de Boston, CINEZINE. Nesta semana é analisado o novo e criticadíssimo filme de Brian de Palma, MISSÃO PARA MARTE (Mission To Mars). Deve ser ótimo, para variar. No zine, o filme é considerado fascinante em alguns momentos e decepcionante em outros. Fala-se que De Palma trocou Hitchcock por Stanley Kubrick, que o filme é credor de 2.001, UMA ODISSÉIA NO ESPAÇO, que a Nasa foi a grande conselheira, mas que o diretor não deu muita trela para os experts e deu asas à imaginação. Ótimo, agora temos um filme para aguardar gulosamente. Um site dedicado aos filmes experimentais, que privilegia exercícios fílmicos que buscam ultrapassar as obviedades cinemáticas e narrativas do suporte, é FLICKER. Lá estão listados os melhores filmes não convencionais dos últimos anos. Há, inclusive, uma bela matéria sobre a palavra transposta em imagens, à partir de filmes inspirados por poemas, escrita por Konrad Steiner. https://www.sirius.com/~sstark/ O fãs do cinema, digamos, menos comportado, já possuem um endereço certo e local. É o B Zine, editado "à duras penas" por Sérgio Reis. As várias sessões se subdividem em: cult horror, exploitation, femmes fatales, o melhor do pior, euro-horror, a gata do mês, asian-cult e até dicas de cd. A animação inclusa em algumas das sessões são, como diria um internauta japonês "uma saro" - (valeu, Jairo Ferreira). Em "Exploitation", uma loura atravessa a tela, dá uma paradinha no centro e abre o sobretudo revelando os atributos. A gata deste mês é Barbara Crampton, de RE-ANIMATOR e FROM BEYOND. https://usuarios.unincor.br/bzine/ O vídeo maker e cineasta Michael P. Di Paolo, entrevistou em tape mais de 2.000 assassinos, ou seja, mais que toda a polícia do Brooklin durante o período de sua pesquisa. A partir deste trabalho de prospecção da mente humana, realizou uma série de vídeos e filmes cultuados pela crítica americana especializada. Em WHERE NO SUN SHINES, invadiu com uma câmera oculta, o universo dos michês e fanchonas de Nova Iorque. BRUTAL ARDOR (86), assim como BOUGHT & SOLD (1988), um petardo premiado no Chicago Film Festival de 88, são dramatizações de seu material de consulta. REQUIEM FOR A WHORE (1989), como o nome indica, faz uma devassa no universo da prostituição feminina. Mas foi em 1994, que Di Paolo se tornou conhecido fora dos Estados Unidos, com o filme TRANSGRESSION, mostrado em quase os festivais de ponta do mundo. Para conhecer o cinema de Di Paolo e adquirir cópias em vídeo de seus trabalhos, o endereço é: https://www.contrition.net/chiaroscuro/index.html Uma coluna obrigatória, de consulta permanente, para os experts na melhor podreira do cinema está no site da Cinextreme. A sessão se chama The Wicked Eye Of Harry Frumkrumble, alcunha de um especialista que se confessa avesso a estúpidas especulações filosóficas. Na edição mais recente, chama a atenção para o tv filme de Maurizio Lucidi, o thrilher "LA DOVE ABITAVA CORINNE" (96), mais conhecido pelas comédias picantes que dirigiu na década de 70 e alguns westerns spaguettis. Mas as mais suculentas descobertas de Mr. Frumkrumble vem de Hong-Kong e da Alemanha. Herman Kau é o realizador de EBOLA SYNDROME, com o astro chinês Anthony Wong herdando um restaurante em Johannesbourg (?), onde a carne e as prostitutas estão contaminadas pelo vírus. O herói, que não resiste a nenhum rabo de saia, logo estará sofrendo as mutações impostas pela peste e no clímax final prepara um prato especial para seus clientes, temperado com a própria p... digamos, seiva vital. Da Alemanha, irrompe, a partir de master em vídeo, UNNATURALLY BORN KILLERS, de Daryl Carstensen. O resumo é impagável: cineasta gordão só pensa em fazer filmes de arte; desafiado por seu produtor a fazer um filme de horror com mutilações e tetas grandes, o bolão resolve ir até as últimas conseqüências e talha, trucida e cozinha suas jovens atrizes em seu estúdio. https://cinextreme.hypermart.net/harryfru.htm
Carlos Reichenbach, 54, é cineasta, roteirista, produtor, diretor de fotografia e crítico esporádico, além de rebelde e utopista assumido nas horas vagas. Suas principais vítimas e afetos são revelados nesta coluna semanal. Atrás das câmeras desde 1966, Reichenbach está lançando seu 12º filme, Dois Córregos, em vídeo e DVD, capta recursos para rodar o longa AURÉLIA SCHWARZENÊGA no início de 2.001, e conclui o roteiro de ORDET - NEM ANJO, NEM ANIMAL, uma produção de custo médio e artesanal que pretende filmar ainda este ano.
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