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QUANDO O AMOR ACONTECE

 

RAPIDINHO

Por que as pessoas vão assistir Quando o amor acontece?. Muito provavelmente porque a atriz principal chama-se Sandra Bullock, uma moça moral e politicamente correta, bonita e com razoável talento dramático. Poucas pessoas, entre as quais me incluo, foram pela curiosidade de ver um filme dirigido por Forest Whitaker, excelente ator negro, feio como diabo, de desconhecidas posições morais e políticas, mas de inegável capacidade na frente das câmaras, vide Bom dia, Vietnã, Bird, Traídos pelo desejo e A cor do dinheiro. Mas Whitaker, atrás das câmaras, não passa de uma Sandra Bullock: é certinho, simpático e previsível. Talvez esteja atrás de uma bela carreira em Hollywood. Nesse caso, ele fez o filme tapando o nariz, e talvez se dê bem. Mas talvez ele goste mesmo de fazer filmes açucarados para os branquelos e branquelas se comoverem até as lágrimas. Nesse caso, ele deveria voltar urgente para a frente das câmaras: a concorrência vai ser tão grande que ele não tem chance alguma. De idiotas bem intencionados o cinema americano já está lotado.

AGORA COM MAIS CALMA

Vamos esquecer por um momento a expectativa criada pela direção de Whitaker. Analisemos Quando o amor acontece com o espírito desarmado. O filme começa com uma cena que, se fosse um quadro do Leão Livre ou do Programa do Ratinho provocaria uma avalanche de telefonemas de telespectadores para os órgãos de defesa do consumidor. A falsidade do enredo é tamanha que pensei tratar-se de um pesadelo da protagonista, ou fruto de sua imaginação delirante. Mas não. Era verdade. Ficamos, eu a Sandra Bullock, com cara de tacho, com evidente desvantagem para mim, já que ela ganha bem mais do que eu para ficar com cara de tacho. Não falo mais mal do Ratinho e do Leão. Eles, pelo menos, às vezes são engraçados.

Mas vamos lá, os créditos iniciais ainda nem apareceram, e podem me chamar de preconceituoso. Sandra Bullock, abandonada pelo marido em rede nacional de TV, de volta à cidadezinha do Texas onde cresceu, tem uma filha meio feinha (que usa óculos, é claro). Ponto para Whitaker, que escolheu uma menina muito talentosa e a dirigiu com competência. Aliás, o menino que faz o primo da feinha também é bom ator. Mais um ponto. Mas sabem quem é o novo namorado da Sandrinha? Harry Connick Jr. Ele mesmo. Aquele galã de segunda que parece estar sempre louco para cantar "Love is all". Dez pontos contra Whitaker, que se recupera levemente ao escalar Gena Rowlands como a mãe da Sandrinha. Fazendo as contas, até que o elenco é razoável. E todos se esforçam para levar o roteiro, pesado e sem alça, alguns metros mais adiante.

Mas então, quando o filme se aproxima do seu final, com todas as cenas de partir o coração que o espectador esperava, acontece a grande catástrofe: alguém morre, e o marido finalmente reaparece para o enterro. A menina feinha de óculos pendura-se no pescoço dele, gritando "Papai" e implorando para ir embora daquela cidadezinha chata e sem futuro (no que ela tem toda razão). O pai tem lá seus motivos para se comportar como um perfeito imbecil, mas o filme não os mostra, o que é bastante preconceituoso para com os pais em geral. Tudo bem, ele casou com a Sandra Bullock, mas isso não pode ser um atestado de boçalidade completa.

Aí a gente pensa: Whitaker tem a grande chance de terminar bem um filme ruim. E basta ser coerente com o que construiu até agora. A filha, desprezada pelo pai, transforma-se numa adolescente drogada ou numa assassina em série. A mãe, ainda bela, mas sem profissão definida, vira prostituta ou governadora do Texas. Tudo isso seria razoável e salutar. Mas Whitaker termina seu filme de forma desprezível. Faz um final feliz sem qualquer sustentação dramática. Dirão os admiradores de Quando o amor acontece: é um final que resgata a esperança e a vontade de viver. Que lindo... E eu diria: é um final que acabou com a minha esperança de ver um novo realizador negro desafiando a lei dos finais felizes, que, infelizmente, transforma filmes em bala de goma. Esqueça Quando o amor acontece. Eu já esqueci que aconteceu.

Quando o Amor Acontece (EUA, 1998). De Forest Whitaker. Com Sandra Bullock, Harry Connick Jr., Gena Rowlands, Mae Whitman e outros.

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Carlos Gerbase é jornalista e trabalha na área audiovisual, como roteirista e diretor. Já escreveu duas novelas para o ZAZ (A gente ainda nem começou e Fausto) e atualmente prepara o seu terceiro longa-metragem para cinema, chamado "Tolerância".

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