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Por Ricardo Cota
STAR WARS: EPISÓDIO
I - A AMEAÇA FANTASMA
Acabou o sofrimento. O
mais esperado filme do ano finalmente chega às telas do Brasil, para deleite
da legião de fãs da série Guerra nas Estrelas. Mesmo quem está a galáxias
de distância dos Jedi e seus cavaleiros dificilmente vai conseguir ficar
indiferente à estréia de A Ameaça Fantasma,
escrito e dirigido por George Lucas. Antes de chegar às telas, o filme
já era um acontecimento.
Nos Estados Unidos, a estratégia de marketing invadiu supermercados e
livrarias com um amontoado de bugigangas que vão de máscaras e espadas
luminosas até sofisticadas edições fotográficas da super produção. Crianças,
jovens e adolescentes não são o único alvo do feérico ataque marketeiro,
cujo efeito avassalador pôde ser sentido já nas filas que se formaram
nas portas dos cinemas americanos 40 dias antes do lançamento oficial
de A Ameaça Fantasma. Na verdade, a grande maioria dos que cultuam
a saga de Luke Skywalker e Darth Vader estão hoje na faixa dos 35 a 40
anos. São os primeiros representantes de uma geração que se acostumou
aos efeitos computadorizados e à realidade virtual, responsáveis pela
forte ligação entre cinema, computação gráfica e vídeo game.
Há 22 anos, quando lançou Guerra nas Estrelas, George Lucas não
ocultou sua ambição desmedida. O filme fazia parte de um complexo conjunto
de três trilogias, ou seja, nove filmes. Para complicar mais o assunto,
Guerra nas Estrelas não era o primeiro episódio da série, mas sim
o quarto. Quem achou que tudo isso não passava de uma tremenda maluquice,
perdeu o bonde interestelar. Guerra nas Estrelas não apenas foi
um sucesso absoluto de público, como se transformou num dos maiores êxitos
de bilheteria de todos os tempos. Bilionário da noite para o dia, George
Lucas produziu, já na década de 80, o quinto e o sexto episódios da série,
respectivamente O Império Contra-Ataca (1980) e O Retorno de
Jedi (1983).
A Ameaça Fantasma traz de volta George Lucas como diretor. Desde
Guerra nas Estrelas, ele havia se dedicado a produzir ou a cuidar dos
negócios de sua empresa de efeitos especiais, a Lucasfilm. A retomada
não poderia ser menos amibiciosa. Além do lançamento de A Ameaça Fantasma,
que corresponde ao primeiro episódio da série de três trilogias, portanto
ao início da saga, Lucas já tem agendado a data de lançamento de mais
dois longas: 2002 e 2005. Será que alguém ainda duvida que eles serão
realizados?
A Ameaça Fantasma conta a história da infância de Darth Vader,
na realidade Anakin Skywalker, o pai de Luke. A receita é basicamente
a mesma dos filmes anteriores, mesclando a aparência de épico religioso
com guerras espaciais e o irresistível clima de capa e espada, obtido
pelos duelos com sabres luminosos. A grande diferença agora são os efeitos
especiais, cada vez mais sofisticados. Das 2.200 tomadas do filme, nada
menos do que 1965 continham algum tipo de efeito digital, um recorde absoluto
que já eleva o filme à condição de barbada para o Oscar dos efeitos especiais.
Há inclusive um personagem, o desajeitado Jar Jar Binks, que é totalmente
digital. Seus movimentos foram clonados, via computador, do ator Ahmed
Best, que faz parte do grupo Stomp. O resultado é impressionante e deixa
pelo menos uma pulga atrás da orelha do sindicato dos atores: será possível
fazer filmes sem o auxílio da categoria?
Para quem não entende nada da mitologia de Guerra nas Estrelas
e do significado de cada um dos seus personagens, o filme impressiona
meramente pelo impacto visual. Há pelo menos uma sequência extraordinária,
a da corrida no deserto que transforma a tela do cinema num imenso videogame.
Apesar do espetáculo pirotécnico de altíssimo nível, muitos fãs saíram
decepcionados, sobretudo com a interpretação de Jake Lloyd, que faz o
papel do pequeno Anakin Skywalker.
Outros consideraram,
com razão, o filme uma reciclagem nada inventiva do primeiro Guerra
nas Estrelas e de O Retorno de Jedi. Pouco importa. A grande verdade
é que A Ameaça Fantasma conseguiu criar um clima de expectativa
tal que até mesmo sessões secretas de fitas piratas foram organizadas
por pequenos grupos mundo afora.
Na zona sul do Rio de Janeiro, um time de aficionados diz ter conseguido
uma cópia inédita do filme. Este crítico foi apurar e descobriu que se
tratava de uma "cópia de trabalho", isto é, em preto e branco, sem trilha
sonora, letreiros e ainda por cima com pouquíssimos efeitos especiais. Mal
comparando, seria como ir a um restaurante sem prato, talher, garçom e,
acreditem!, sem cozinha. O crítico preferiu devorar o prato principal
nos cinemas. Até porque fanatismo também tem limite.
Star
Wars: Episódio I - A Ameaça Fantasma
(EUA, 1999). De George Lucas.
Ricardo
Cota, 33, é crítico de cinema do Jornal do Brasil há oito
anos, com passagens pelas revistas Cinemin, Set, Tabu, Cinema e IstoÉ,
além do jornal O Dia. Foi autor dos cursos Bergman/Woody Allen: Dois
Cineastas Face a Face; Huston/Coppola: Os jogadores; e O Cinema
Cantado, Breve História dos Musicais.
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