Busca

Pressione "Enter"

Cobertura completa Sites de cinema Grupos de discussão Colunistas Os melhores filmes Notas dos filmes Todos os filmes Roteiro de cinema O que está passando no Brasil

VAMOS NESSA

RAPIDINHO

Um bom filme tem começo, meio e fim, certo? Certo. Mas a excelente comédia "Vamos nessa", tem três começos, três meios e quatro fins. E nada é redundante. Não são três histórias. É a mesma história contada sob três pontos de vista diferentes: o de uma caixa de super-mercado que precisa pagar seu aluguel (e para isso resolve traficar Ecstasy); o de seu amigo inglês, que deveria fornecer o produto, mas está virando Las Vegas de cabeça para baixo; e o de uma dupla de atores gays às voltas com um policial estranhíssimo, que está na cola da caixa do super-mercado. Fecha-se o ciclo, fecha-se a história e começa a diversão.
Envie esta página para um amigo


AGORA COM MAIS CALMA

O procedimento narrativo de Vamos Nessa não é novidade. Em "Os sete samurais", Akira Kurosawa já fazia a brincadeira de recontar os mesmos fatos com narradores diferentes. E a literatura já faz isso há alguns séculos. Mas o que importa? Em "Vamos nessa" a estrutura funciona magistralmente, o ritmo é perfeito e, em momento algum, fica a impressão de que o filme se estende demais. Pelo contrário. Os três ciclos se complementam e lançam luzes uns sobre os outros.

Uma ou outra coincidência pode parecer meio forçada (como a identidade do motorista que atropela a caixa do super-mercado na festa), mas nada que comprometa a verossimilhança de toda a trama. Além do mais, esta é apenas uma comédia, em que o importante é a diversão do freguês. Mesmo com um roteiro brilhante, contudo, o diretor Doug Liman poderia ter feito um filme confuso, ou simplesmente repetitivo. Mas ele sabia o que estava fazendo e conseguiu dar a "Vamos nessa" uma profundidade dramática pouco usual em comédias americanas.

O elenco, além de homogêneo na atuação, é um verdadeiro coquetel de caras novas e promissoras. A trilha musical, além de bem escolhida e tremendamente pop (o CD vai vender bastante), comenta algumas cenas de modo irônico, fugindo ao lugar comum. A fotografia e a montagem, além de competentes tecnicamente, ajudam as reviravoltas do roteiro, sem ser didáticas demais. Enfim, tá tudo certo, mas nada em ordem. Ainda bem.

"Vamos nessa" - uma comédia simples e despretensiosa, valorizada por um roteiro sofisticado - prova que é possível fazer filmes inteligentes para o público "jovem", que hoje é decisivo nas bilheterias de todo o mundo. Em vez de doses gigantescas de violência sem sentido e sexo sem razão, Doug Liman entrega ao espectador bons personagens (que nada têm de heróicos ou maquiavélicos) e boas piadas (que, em sua maioria, exigem um certo exercício dos neurônios para funcionar). Ao lado de "Felicidade", que é a outra face da moeda - uma comédia pretensiosa e intelectual disfarçada de brincadeira iconoclasta - "Vamos nessa" é mais uma prova de que o cinema americano, apesar de nos empurrar goela abaixo seu lixo habitual, continua sendo o melhor do mundo.


Vamos Nessa (Go, EUA, 1999). De Doug Liman.

Dê sua opinião ou cale-se para sempre

Carlos Gerbase é jornalista e trabalha na área audiovisual, como roteirista e diretor. Já escreveu duas novelas para o ZAZ (A gente ainda nem começou e "Fausto"). Atualmente finaliza seu terceiro longa-metragem, Tolerância, com Maitê Proença e Roberto Bomtempo.

Índice de colunas.

Copyright © 1996-1999 ZAZ. Todos os direitos reservados. All rights reserved.