As
Duas Torres é mais inteligível
para
quem não leu o livro
Silvia Marconato/Terra
|
Divulgação |
Está aberta a segunda temporada de livros
vertidos para o cinema. Harry Potter e a Câmara
Secreta estreou em novembro trazendo o segundo
livro do bruxinho e, agora, o bem e o mal voltam às
telas em O Senhor dos Anéis 2 - As Duas
Torres.
O primeiro filme da série baseada na obra
de J.R.R. Tolkien não agradou a quem não
leu o romance. Sem ter um verdadeiro final, ou
pelo menos, uma conclusão dos fatos narrados
nele, as pessoas saíram do cinema julgando
o filme sem graça e até uma farsa,
visto que o investimento em mídia e a fama
do escritor não se mostraram na tela.
O que pouca gente - entre os que não leram
o livro - viu foi o poder de concisão de
roteiro. Peter Jackson conseguiu mostrar de maneira
clara perto de 500 páginas do metódico
estilo descritivo e narrativo de Tolkien.
Como que para conter a insatisfação
do público e tornar a história inteligível
para todos, Jackson usou um recurso simples para
começar O Senhor dos Anéis 2.
A primeira cena mostra Gandalf, o mago, caindo
no abismo e lutando contras as forças malignas
- uma das cenas do primeiro filme. Uma voz resume
o que aconteceu até então na história
e dá uma prévia do que são
as duas torres: a materialização
do poder de Sauron, o rei das trevas de Mordor,
e de Saruman, o feiticeiro de Isengard que se aliou
a Sauron por sua ganância exagerada.
A Sociedade do Anel, em seu esforço
para resumir de maneira compreensível uma
história repleta de personagens de nomes
estranhos e genealogias complexas, acabou por ter
um roteiro linear, em que um perigo sucedia ao
outro, como se fosse um videogame. O mesmo não
acontece em As Duas Torres. Como os personagens
principais se separaram, o roteiro conta três
seqüências de fatos paralelos que contribuem
para a compreensão de toda a história.
Assim, a narrativa passa de um grupo de personagens
ao outro, tornando bem mais agradável a
tarefa de enfrentar as quase três horas de
projeção.
As boas risadas ficam por conta do anão
Gimli, interpretado por John Rhys-Davies. No quesito
romantismo Liv Tyler, que faz o papel de Arwen,
mais uma vez ganha espaço no filme por sua
beleza - apesar da personagem ter apenas uma pequena
participação no livro. As cenas em
que mostra seu amor e até desiste da imortalidade
para ficar com o guerreiro Aragorn foram incluídas
pelo roteirista. Se estivesse vivo, Tolkien talvez
não aprovasse essa superexposição.
E se o papel fosse de outra atriz as cenas teriam
provavelmente sido muito mais curtas, já que
os longos flashbacks com Tyler nada mais são
do que veículos para seu estrelato, não
contribuindo para a compreensão da história
ou para o ritmo da narrativa - isso, num filme
bem mais longo do que a média.
Um capítulo à parte são as árvores
que também entram na briga para conseguir
resistir à destruição da Terra.
Apesar dos efeitos especiais terem colocado até narizes
em árvores que falam e andam, o recado é extremamente
pertinente e continua válido, mesmo vindo
de um livro escrito há tantos anos.
Outros valores também ganharam destaque.
A Sociedade para destruir o anel colocou lado a
lado um anão e um elfo, povos que não
se entendiam - a convivência e a necessidade
provaram que isso é possível: Guinli,
o anão, e Legolas, o elfo, tornam-se grandes
amigos. A lealdade de Sam para com Frodo, que carrega
o pesado fardo de salvar o mundo ou render-se ao
poder devastador de Sauron, é invejável.
O jardineiro tem a chance de roubar o anel e ao
invés disso luta para que também
o amigo não se deixe sucumbir.
A fotografia do filme e os efeitos visuais continuam
impecáveis. Tomadas belíssimas mostram
as montanhas em que Frodo caminha junto com seu
fiel escudeiro Sam e a grande batalha entre os
orcs de Saruman e Sauron e os elfos e homens de
Gandalf, Gondor e Aragorn.
Por fim, o grande mérito é contar
uma história tão cheia de detalhes,
nome ininteligíveis e impossíveis
de se repetir sem que o espectador perca o interesse.
O medo que espreita a todo momento mantém
a atenção presa e, o melhor, o filme
desta vez tem um fim, mesmo que para conhecer o
verdadeiro e derradeiro final ainda tenhamos de
esperar mais um ano.
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