Diversão

Centenário Oscar Niemeyer

Biografia

Considerado um dos nomes mais influentes da arquitetura moderna mundial, Oscar Niemeyer completa 100 anos em 15 de dezembro de 2007. Em homenagem ao centenário, o arquiteto recebeu em 30 de novembro das mãos do presidente Lula a medalha do Mérito Cultural. "Niemeyer é um exemplo de vida e uma inspiração para todos os brasileiros", afirmou. O presidente pretende assinar um decreto que institui 2008 como o ano Oscar Niemeyer.

Nascido em 1907, no Rio de Janeiro, Niemeyer passou a juventude como um jovem carioca típico da época: boêmio, sem a menor preocupação com os rumos de sua vida. Concluiu o ensino secundário apenas aos 21 anos, mesma idade com que se casou com Annita Baldo (1999 - 2004), filha de imigrantes italianos com quem teve apenas uma filha, a galerista Anna Maria Niemeyer.

Um ano depois, Niemeyer matricula-se na Escola Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro. Em 1934, ele sai de lá com o diploma de engenheiro arquiteto. "Depois de casado comecei a compreender a responsabilidade que assumia e fui trabalhar na tipografia de meu pai, entrando depois para Escola Nacional de Belas Artes", disse ele.

Em 1935, Niemeyer inicia sua vida profissional no escritório de Lúcio Costa e Carlos Leão. "Não queria, como a maioria dos meus colegas, me adaptar a essa arquitetura comercial que vemos aí. E apesar das minhas dificuldades financeiras, preferi trabalhar, gratuitamente, no escritório do Lúcio Costa e Carlos Leão, onde esperava encontrar as respostas para minhas dúvidas de estudante de arquitetura. Era um favor que eles me faziam", afirmou ele.

Em 1937, Oscar Niemeyer projeta a Obra do Berço, no Rio. Dois anos mais tarde, viaja com Lúcio Costa para projetar o Pavilhão do Brasil na Feira Mundial de Nova York. Em 1940, Niemeyer conhece o então prefeito de Belo Horizonte, Juscelino Kubitschek, que o chamaria para projetar seu primeiro trabalho individual.

Aos 33 anos, o arquiteto desenhou em Belo Horizonte, Minas Gerais, uma série de prédios a convite de Kubitschek, mais tarde conhecidos como Conjunto da Pampulha. A construção, que ficou pronta em 1943, rendeu muitas críticas e admiração e trouxe ao arquiteto sua primeira projeção internacional.

Em 1951, Niemeyer cria o Conjunto do Ibirapuera (um parque com pavilhões de exposições em homenagem ao aniversário de 400 anos da cidade) e o edifício Copan, em São Paulo. O prédio, que fica em um dos pontos mais movimentados do centro da capital paulista, se tornou um dos símbolos da cidade.

No ano seguinte, o arquiteto constrói sua própria casa no Rio de Janeiro, a Casa das Canoas, que recebeu o nome devido a estrada em que a residência se encontra. Muitos anos depois, o local torna-se parte da Fundação Oscar Niemeyer.

Brasília

Eleito presidente do Brasil em 1956, Juscelino Kubitschek entra em contato com Niemeyer novamente para a realização de um projeto ambicioso: a criação da nova capital do País. JK convida o arquiteto para a direção da Novacap, a empresa urbanizadora.

Niemeyer é encarregado de organizar o concurso para a escolha do plano-piloto de Brasília, participando também da comissão julgadora.

No período entre 1957 e 1958, o arquiteto projeta o Palácio da Alvorada e os principais prédios da nova capital, entre eles o Congresso Nacional, a Catedral de Brasília, os prédios dos ministérios e a sede do governo (Palácio do Planalto), além de prédios residenciais e comerciais.

Lúcio Costa, seu antigo patrão e grande amigo, vence o concurso para o projeto urbanístico, e coloca em prática conceitos modernistas de cidade, inspirado nas idéias do arquiteto franco-suíço Le Corbusier, como ruas sem trânsito, prédios erguidos por pilotis (apoiados em colunas e permitindo o espaço em baixo livre) e integração com a natureza.

Brasília é projetada, construída e inaugurada no intervalo de tempo de um mandato presidencial, quatro anos. Após sua construção, Niemeyer torna-se coordenador da Faculdade de Arquitetura da Universidade de Brasília (UNB). Em 1963, durante a Guerra Fria, é nomeado membro honorário do Instituto Americano de Arquitetos dos Estados Unidos, e ganha o prêmio Lênin em favor da paz.

Ditadura e repressão

Filiado ao Partido Comunista Brasileiro desde 1945, o arquiteto visitou a União Soviética e tornou-se amigo pessoal de diversos líderes socialistas. Fidel Castro teria dito a respeito dele: "Niemeyer e eu somos os últimos comunistas deste planeta".

Sua miltância política aproximou-o de personalidades com o mesmo posicionamento, especialmente do poeta chileno Pablo Neruda e do ex-presidente Salvador Allende, a ponto de realizar recentemente o projeto de um centro cultural em Valparaíso, cidade natal do estadista.

Em 1964, Niemeyer é surpreendido pela notícia do golpe militar no Brasil. Na ocasião, ele estava em Israel a trabalho. No mesmo ano, o arquiteto retorna ao País e é chamado pelo Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) para depor.

A posição esquerdista de Niemeyer lhe custa caro. A revista da qual ele é diretor, a Módulo, fundada em 1955, tem a sede semi-destruída em 1965. Seus projetos começam a ser recusados e seus clientes desaparecem. "Mas durante a ditadura, tudo foi diferente. Meu escritório foi saqueado e o da revista Módulo, semi-destruído. 'Lugar de arquiteto comunista é em Moscou', desabafou um dia à imprensa o Ministro da Aeronáutica", relembra ele.

Em 1965, Niemeyer retira-se da Universidade de Brasília ao lado de 200 professores como protesto contra a política universitária. No mesmo ano ele viaja a Paris para a exposição de sua obra no Museu do Louvre.

Impedido de trabalhar no Brasil, Niemeyer decide mudar-se para Paris. Ele abre um escritório na famosa avenida Champs-Élysées e passa a ter clientes de todo o mundo. Na Itália, ele projeta a sede da Editora Mondadori e na Argélia, a Universidade de Constantine.

Seu trabalho é reconhecido internacionalmente, e ganha admiradores em todas as áreas, como o sociólogo italiano Domenico de Masi, os escritores José Saramago e Eduardo Galeano, o historiador britânico Eric Hobsbawm, o ex-presidente português Mário Soares, o cineasta Nelson Pereira dos Santos e o cantor Chico Buarque.

Em 1975, a revista Módulo volta a ser publicada, encerrando suas atividades em definitivo no ano de 1989.

Volta ao Brasil

Nos anos 80, Oscar Niemeyer volta ao Brasil. Nesta época, ele projeta o Memorial Juscelino Kubitschek, o prédio-sede da Rede Manchete de Televisão, o sambódromo do Rio de Janeiro, o Panteão da Pátria de Brasília e o Memorial da América Latina, em São Paulo.

Em 1987, ele recebe nos Estados Unidos o Pritzker de Arquitetura, considerado o prêmio mais importante do mundo na categoria. Três anos depois, junto ao amigo Lúcio Costa, Niemeyer desliga-se do Partido Comunista Brasileiro.

Aos 84 anos, em 1991, Oscar Niemeyer projeta o Museu de Arte Contemporânea de Niterói (MAC), que muitos consideram sua obra-prima. Os traços modernos do museu fazem a construção se assemelhar a um disco voador. Projetado sobre uma pedra, a construção oferece visão para a Baía de Guanabara e o Rio de Janeiro.

Em 2002, é inaugurado em Curitiba o Museu Oscar Niemeyer, conhecido como Museu do Olho, devido ao design de seu edifício. Quatro anos depois, é inaugurado o Museu Nacional Honestino Guimarães, de autoria de Niemeyer, localizado na Esplanada dos Ministérios, em Brasília.

O arquiteto continua em plena atividade profissional. Em 2007, Niemeyer inicia as obras do seu primeiro projeto na Espanha: um centro cultural com o seu nome, em Avilés, com inauguração prevista para 2010.

Niemeyer é nomeado ainda presidente de honra do Centro de Educação Popular e Pesquisas Econômicas e Sociais (CEPPES), centro de estudos fundado por Luís Carlos Prestes.

Além disso, é convidado para redesenhar o prédio do Departamento Estadual de Trânsito (DETRAN), de sua autoria, em São Paulo, que abrigará o novo Museu de Arte Contemporânea (MAC) da Universidade de São Paulo (USP).

Família

Oscar Niemeyer casou-se aos 21 anos com Annita Baldo (1909-2004), filha de imigrantes Italianos da província de Pádua. Os dois tiveram apenas uma filha, Anna Maria, que deu ao arquiteto cinco netos, treze bisnetos e cinco trinetos.

Viúvo desde 2004, Niemeyer decide se casar com Vera Lúcia Cabreira, 60 anos, sua secretária há três décadas, em dezembro de 2006, aos 98 anos.

Os dois casaram-se no dia 16 do mesmo mês, em uma cerimônia civil realizada na residência dele no Rio. Apenas um juiz e duas testemunhas estiveram presentes. Niemeyer só informou sua família da união no dia seguinte.