"Eu não soube entender o sinal que me foi dado"
Leiam comigo o relato de Bia. Com sua intuição, ela pressentiu um acidente que veio realmente a acontecer. Isso demonstra que ela tem razão: quando algo tem de acontecer, de acordo com o destino, é impossível modificar. Minha mãe havia viajado com meu irmão para Rio Branco, no Acre. Para chegar até o destino é necessário atravessar o rio de balsa. Nesse mesmo dia, meu primo, que era como um irmão para mim, foi acampar com sua turma em uma praia chamada Fortaleza do Abunã, em Rondônia. Ele me convidou, mas eu não pude ir, pois estava com a perna engessada. No dia seguinte acordei com uma dor indescritível no peito, uma angústia muito forte, e a todo momento pensava em minha mãe e no meu irmão. Em pensamento, eu via a balsa. Então, comecei a falar para minha irmã, para minhas amigas e para todos que chegavam que a balsa poderia afundar, ou o ônibus dela cair. Enfim, eu via uma tragédia na balsa, eu via o rio. Todos tentavam me acalmar, diziam que não era nada disso, mas a angústia persistia em meu peito. Eu não compreendia os sinais. Pensava também que a premonição ou vidência poderia ser para o meu primo? (Para chegar até a praia onde eles iriam acampar, também era necessário atravessar um rio.) Foi isso que acontece. Voltando do acampamento ele estacionou o carro na balsa. Enquanto ele e o pessoal da turma esperavam pelo embarque dos outros carros, o que costuma demora um pouco, a balsa permanece atracada. Meu primo resolveu dar um mergulho, pois, segundo quem estava lá, estava muito calor. Ele apenas tirou a camiseta e pulou rio: foi um mergulho fatal! Ele não calculou bem a profundidade (era bem rasa) e saltou de cabeça. Quebrou a segunda e terceira vértebras da coluna, não morrendo imediatamente, mas sem chance alguma de sobrevivência. Eu não soube entender o sinal que me foi dado, egoisticamente pensava apenas em minha mãe, nunca iria imaginar que fosse com o meu primo. Esse fato ocorreu às 16 horas do dia 31 de agosto de 1994, na cidade de Porto Velho, onde eu morava na época. Isso me marcou muito, mas, de qualquer forma, não teria como avisá-lo. Naquela época nem todos tinham telefone celular. Seria difícil, mas não impossível alertá-lo do perigo. Mas não devemos mudar o que tem que ser.
Marina Gold/Especial para o Terra
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