Quinta, 16 de janeiro de 2003
Força do destino
O relato que publico hoje foi enviado por uma leitora de São Paulo. Escolhi-o porque ele nos fornece uma visão clara da "força do destino", ou seja, de que cada um de nós tem pré-determinadas algumas circunstâncias que não podem ser impedidas e com as quais às vezes não contamos.
Estava escrito:
"Convivi razoavelmente pouco com meu pai, pois ele passou toda sua vida trabalhando como gerente de vendas, o que o levava a se ausentar freqüentemente de casa, em longas viagens pelo interior e, depois, pelas grandes capitais do Brasil. Quando eu era criança ele viajava de carro, por estradas precárias, para os pontos mais diversos do país.
Esperávamos em casa, ouvindo o noticiário, tomando conhecimento do estado das estradas e do clima das regiões, pois temíamos que algo acontecesse a ele numa estrada deserta e esquecida. Com o passar dos anos ele se tornou bem sucedido e substituiu os carros por aviões. Era difícil, pelo menos nos seus 10 últimos anos de vida, acompanhar o ritmo de seu trabalho.
No mesmo dia ele ia do sul ao nordeste, do leste ao norte e nos telefonava para dizer onde tinha chegado: 'mas como, você não esta em Curitiba?' 'Não! Já cheguei em Manaus'. Assim transcorreu a vida, a nossa vida cheia de receios, cheia da espera do "grande acidente" que poderia acontecer e acabar com a alegria que sentíamos com a sua volta, nos finais de semana.
Um dia ele ficou muito doente e precisou fazer uma cirurgia delicada no coração. Animado ele garantia: 'Se não morri em nenhum avião, em nenhuma estrada perigosa, não vai ser uma cirurgia que vai me levar!' Que pena! Nós que o havíamos esperado por todos os dias de vida, o perdemos exatamente ali, no frio CTI de um hospital excelente e renomado, cercado por pelo menos dez médicos...
Tirei deste fato uma lição que gostaria de dividir com todas as pessoas: Não adianta ter medo ou se 'preparar' para um grande desastre.Os desastres só acontecem quando fazem parte do destino. Senão, nada ocorre, a menos que a pessoa se exponha muito, é importante se fechar às angustias e aos temores."
Marina Gold
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