Conheça as paternidades metafísicas
Nos últimos dez dias, uma grande empresa internacional de telefonia celular aproveitou a comemoração de domingo passado - dia dos pais - e, como a maioria dos leitores provavelmente viu, apontou nossa sensibilidade e afetividade para a questão da "voz do pai". Uma voz experiente para alguns, tranqüilizadora para outros, voz que denota saudade, rememoração, esperança, exemplo, força, convicção, coragem, norteamento, caráter e muitas outras qualidades positivas. Essa voz, entendida como metáfora na propaganda que menciono no parágrafo anterior, é apenas um canal para algo bem mais influenciador e definidor da experiência humana: a palavra. Essas configuram sentido, exprimem lições e modelos que quase todos levarão pela vida afora, exemplos, marcos de confiança em meio às tempestades e naufrágios da arriscada e insegura navegação pela qual avançamos todos nós. Nesse sentido, como esquecer certas palavras proferidas pelo pai da gente? Elas nos acompanham com a força da presença daquilo que é canônico. Elas são lei para nós, bússola e esquadro. Com elas nós orientamos e medimos o mundo. Essas palavras possuem um tremendo poder, auxiliam na organização e na forma como compreendemos o mundo, como constituímos nosso ser e nossas escolhas. Mas, caros leitores, apontei acima que "quase todos" carregam essa marca. Quase todos, não todos. Há muita gente sem pai. No nosso país, por volta de 20% das certidões de nascimento permanecem com aquela linhazinha para o "nome do pai" em branco. Na dimensão cotidiana da existência, a ausência do pai é vivida como dura lacuna: terrível vazio, buraco, vácuo, falha, falta. Contudo, na esfera esotérica, nos domínios espirituais, as coisas não são bem assim. As correspondências entre a realidade terrena e a realidade superior não são simples ou diretas como ingenuamente se pode acreditar. A questão da paternidade metafísica difere da concreta. No domínio do espiritual, não há linha em branco em nenhuma certidão de nascimento. O nome ali escrito, o "nome do pai", em geral não é único e provém de variadas fontes muito importantes: gente antiga, espíritos evoluídos, mestres de bondade, antepassados terrenos, laços e contratos anteriores de amizade e dívida simbólica. Ao longo dessa semana, passado o dia dos pais do comércio, vamos buscar elevação espiritual, refletindo sobre nossas filiações esotéricas. Quem encontramos nas nossas certidões de nascimento mística? Desses pais também somos filhos queridos, eles nos dizem parabéns e nós devemos retribuir, aprendendo a dizer obrigado.
Marina Gold/Especial para o Terra
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