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O funcionamento do tempo, sem dúvida, é para nós um dos temas mais cativantes. Semente que desabrocha em rosa, logo mais, envelhece e cai apodrecida: esse ciclo fluente, e impossível de ser contido, é marca distintiva da passagem inexorável da vida, nos caracteriza e gera a percepção de mundo convencional que nos cerca, aquele com o qual operamos cotidianamente, em nossos afazeres comuns e corriqueiros.

A discussão sobre a dimensão do tempo e seus desdobramentos constituiu-se, ao longo da história de curiosidade e exploração que marca a humanidade, um dos enigmas mais cativantes, capaz de apaixonar sucessivas gerações de físicos, filósofos e místicos. Entender essa sombra silenciosa e perpetuamente móvel ocupou o melhor da inteligência de muitos dos maiores nomes que a poesia, a ciência, a vida prática agasalhou.

No mundo espiritual, ao contrário do que é inquestionável e imutável por aqui, a flecha do tempo não está uniformemente orientada apenas para frente. Ela se mostra reversível, elástica, pode mudar de sentido e intensidade. Essa característica singular e antiintuitiva para nós - acostumados com a correnteza sempre fluindo na mesma direção - cria um horizonte de eventos pleno de potencialidades infinitas, reino de virtualidade absoluta de acontecimentos.

O que aqui não se deu, lá pode se dar muitas e muitas vezes. O que aqui não se repetiu jamais, lá pode se refazer tantas vezes quantas forem necessárias. É difícil compreender isso com a nossa consciência não-treinada para envolver essa estonteante rede de aberturas e caminhos reversíveis, mas é assim que a Inteligência Universal pode operar.

A menina que queria, no meio da infância, ganhar determinada boneca, ganha. Não como uma adulta que desejou e, após frustração, superação, longa série estonteante de outros eventos, obtém. Não. Lá no domínio do espiritual a experiência sensível é reconstruída em toda a sua plenitude: a menina é presenteada com o ponteiro metafísico do tempo estancado no coração daquele meio-dia dourado dos dez anos de idade.

Metaforicamente podemos pensar em xícaras que foram caindo e se quebrando pelas nossas vidas afora. O temperamento manipulável do tempo espiritual abre conseqüências reconfortantes que não dispomos aqui no mundo terreno. Lá os cacos espalhados, como num filme visto em reverso, se recompõem no todo coeso e único da perfeição inicial, infelizmente rompida pelos desgastes e provações da realidade material. Assim, antigos dissabores, brigas, desentendimentos, erros e acidentes serão reparados com essa espécie de cola absoluta do tempo. Gratuitamente? Não, dosada de acordo com merecimentos.

Marina Gold/Especial para o Terra