Reflexões após o Dia dos Namorados
Conta-se que há muitos séculos, quando as pessoas viviam em cavernas, os homens primitivos agarravam a mulher amada pelos cabelos e a arrastavam para sua companhia. A eleita, submissa e embevecida, devia sentir-se muito feliz por ter sido escolhida entre tantas outras. Com o passar dos tempos, a conquista foi se afastando desse tipo de comportamento selvagem e tomando contornos muito diferentes. Novas formas de envolvimento foram aparecendo, sempre, porém, com o homem a dar o primeiro passo. Namoro na janela, no portão, namoro na sala, consentimento dos pais, noivado, anel e, aos poucos, a mulher foi se emancipando, se libertando para partilhar dos mecanismos de conquista, antes permitidos apenas ao mundo masculino. Em pleno século XXI, os namoros perderam seus contornos originais. Já não há mocinhas nas janelas, nem passeando ao redor dos coretos, pois nem coretos há mais. A pracinha foi substituída pela internet, o correio elegante tomou a forma dos emails, o romantismo ficou subjugado ao erotismo das camisolas de cetim, nas vitrines, preconizando um Dia dos Namorados muito sexy e repleto de prazeres. Enfim, surge a mulher emancipada, liberta dos preconceitos, e que nunca mais, em nenhuma geração vindoura, permitirá que a agarrem pelos cabelos e a confinem numa caverna. Nessa altura da História, o homem elegante, que tem a intenção de namorar, logo convida a amada liberal para passar com ele o fim de semana, num canto muito íntimo, a fim de se divertirem no Dia deles, e resolver se eles combinam. A moça vai, é claro, afinal, já passamos do ano 2000. A liberdade, porém, traz certas obrigações que só a emancipação pode gerar. Assim, agora, neste último Dia dos Namorados, as namoradas, antes puxadas pelos cabelos, mimadas pelo amado, ganhadoras de flores, jóias e presentes em geral, tiveram de pagar seu tributo à independência e precisaram comprar um lindo - e às vezes caro - presente para seu amado. Nem tudo é perfeito.
Marina Gold/ Especial para o Terra
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