Sydney - De acordo com aqueles que já estiveram em uma Vila Olímpica, histórias sobre paqueras são as mais freqüentes. As explicações para isso são muitas e vão desde os atletas que chegam aos Jogos sem qualquer chance de conquistar uma medalha e, por isso, fazem da viagem uma festa, até aqueles que apegam-se aos clichês do tipo "também sou filho de Deus" ou "não estou morto, né!"
Uma das histórias mais interessantes foi lembrada pelo cestinha Oscar Schmidt. Ele contou que durante os Jogos de Moscou, em 1980, dentro da Vila existia uma loja onde eram vendidas pequenas lembranças, como bichos de pelúcia e cartões-postais. Como era época de Guerra Fria, os objetos relacionados a astronomia estavam em alta, principalmente lunetas.
Oscar lembra que a parte masculina da delegação brasileira comprou todo o lote de lunetas disponível, levando os russos a acreditarem no interesse brasileiro pelas constelações. "Que ver estrela que nada", disse. "Todo mundo comprou as lunetas para ficar vendo as meninas que estavam no prédio à nossa frente trocando de roupa à vontade", explicou o jogador.
O final da história foi, segundo ele, ainda mais cômico. Era verão e as longas horas do dia dispensadas na contemplação da "vizinhança" deu uma plástica nova e insinuante aos curiosos de plantão. "Os caras ficaram com um olho mais claro do que o outro, que não era queimado pelo sol por ficar o tempo todo no visor da luneta", entregou Oscar. "O sujeito não tinha nem como disfarçar."
Pegadinha - O basquete feminino não ficava atrás na bagunça. A ex-jogadora Hortência lembrou uma passagem ocorrida nos Jogos de Barcelona, em 1992. Na época, o astro hollywoodiano Arnold Schwarzenegger acabara de lançar um filme. A produção do estúdio responsável pela obra enviou uma carta a todos os atletas alojados na Vila, convidando-os para assistir o filme. "Nós recolhemos todas as cartas endereçadas ao time de basquete feminino e deixamos que apenas uma jogadora recebesse a correspondência", conta Hortência, mantendo o nome em sigilo.
Ela diz que o grupo dirigiu-se à "vítima" mostrando que Schwarzenegger havia mandado uma carta só para ela. A novata não acreditava, mas as demais apontavam o nome dela estampado no envelope. Como a atleta não falava inglês, Hortência tomou-lhe a carta e pediu a Paula para ler. "A Paula fingiu que estava traduzindo e falou que o cara (Schwarzenegger) queria sair com ela", contou. "Acho que até hoje a menina acredita nisso, pois nós nunca revelamos a verdade", diverte-se.
Olho aberto - Para Carlão, capitão da seleção de vôlei masculino medalha de ouro em 1992, a história mais marcante é relacionada à praia particular que os atletas alojados na Vila tinham à disposição. Ele contou que o técnico José Roberto Guimarães costumava levar o time até o local para realizar treinamentos físicos. "Quando corríamos pela orla o que mais se via eram camisinhas espalhadas por todos os lugares", disse.
Já a meio-de-rede da seleção feminina Ida lembrou que na mesma época era comum ver e, sobretudo, ouvir os rapazes do masculino espiando os alojamentos das jogadoras russas, que estavam no prédio vizinho. "Um dia, ouvi a voz do Zé Roberto (Guimarães) dizendo 'chega moçada, vamos para a reunião'", afirmou Ida, ressaltando que naquele momento não se conteve. "Como estávamos no andar de baixo fui até a sacada e disse: 'Até você, hein Zé Roberto!'"
O Estado de S.Paulo