Sydney - A seleção brasileira olímpica de futebol vai disputar seu jogo-treino de domingo à tarde num clube cuja principal atividade é um cassino. E que cassino.
A jogatina rende ao Club Marconi of Bossley Park, localizado num subúrbio na parte oeste de Sydney, 100 milhões de dólares australianos (cerca de R$ 110 milhões) por ano. Os recursos vêm basicamente de máquinas caça-níqueis, roletas, loto e corridas de cavalos e de cachorros.
Todas as manhãs, funcionários recolhem do caixa e das máquinas caça-níqueis, em média, 250 mil dólares australianos. Com o equivalente a 12 dias de faturamento, o clube paga a manutenção por um ano de seu time de soccer, o Marconi Stallions, adversário do Brasil no domingo.
Graças ao dinheiro em abundância, o time de Wanderley Luxemburgo vai jogar num estádio com capacidade para 11 mil espectadores, cadeiras individuais nas arquibancadas, sauna no vestiário, camarote vip com ar-condicionado para as autoridades e um gramado impecável, onde se disputa exclusivamente futebol, coisa rara no país do rugbi e do futebol australiano.
"A drenagem é tão boa que, aqui, pode-se fazer 20 partidas seguidas sob chuva sem que o gramado perca qualidade", conta o cubano George Abrev, manager do clube e cicerone dos visitantes. O convite à Nike, patrocinadora da seleção brasileira, foi uma sugestão do técnico do Marconi Stallions, o australiano Eddie Krncevic.
Famosos também por seu gosto pelos automóveis, os jogadores brasileiros vão se impressionar ao dar de cara, logo no saguão do clube, com uma Ferrari 355 F1 Spider vermelha. O carro será sorteado no mês de dezembro entre os freqüentadores do cassino, que funciona sete dias por semana. Quando não são Ferraris, o Marconi sorteia automóveis BMW conversíveis ou casas.
Ao contrário de Wanderley Luxemburgo, no entanto, o clube australiano aparentemente não tem problemas com o fisco. A sonegação inexiste porque os impostos são descontados automaticamente na fonte, assim que o apostador coloca moedas ou passa seu cartão de crédito nas máquinas eletrônicas. A diretoria do clube, no entanto, rejeita a condição de cassino por não contar com crupiês nem roletas, apenas máquinas eletrônicas.
A expectativa em torno da presença da seleção brasileira olímpica é grande no clube fundado em 1954 por um grupo de italianos que nas décadas de 40 e 50 se reunia todas as noites para jogar bocha e beber cerveja. Como beber e jogar ao mesmo tempo era proibido, a polícia sugeriu que fundassem uma associação.
E assim foi feito. Cartazes anunciam aos sócios que a entrada para o jogo de domingo é grátis. As placas de publicidade do estádio já estão devidamente cobertas com uma lona azul, a pedido da Confederação Brasileira de Futebol. O principal patrocinador do Marconi Stallions na NSL, a liga nacional australiana de futebol, é o Brescia Furnitures, fabricante italiano de móveis. Uma concessionária de automóveis também tem sua marca exposta no estádio e só vai aparecer no dia do jogo porque tem o nome pintado num telhado.
O investimento em esporte e ações sociais é abatido dos impostos que o clube paga ao governo italiano pela jogatina. Assim, os 25 mil sócios desembolsam módicos 15 dólares australianos por ano para ter acesso a uma infra-estrutura que inclui seis campos de futebol gramados, quadra de tênis, squash, cancha de bocha, saunas, salões de jogos e de festas, restaurantes, lanchonetes e os mais variados cursos para jovens e idosos. Em dezembro, o clube promove um grande jantar de final de ano, também sem cobrar nada. A demanda é tão grande que, para atender todos os sócios, a festa é desdobrada em quatro dias.