Sydney – A dona de casa inglesa Rosemary Mula e o marido, Wilfred, esperam com ansiedade o dia 12 de setembro, quando irão até o Aeroporto de Sydney para recepcionar seu maior ídolo: o bicampeão olímpico Adhemar Ferreira da Silva. O encontro será um capítulo especial na história de uma amizade de mais de 20 anos, que surgiu graças à uma olimpíada.
“Minha família emigrou da Inglaterra para a Austrália poucas semanas antes da Olimpíada de Melbourne, em 1956, e meu pai comprou um ingresso para que eu assistisse às provas de atletismo”, lembra Rosemary. Entre os competidores, estava Adhemar. “Ele chamou muito a minha atenção porque, até então, nunca havia visto um negro.” Rosemary lembra que, na época, o ambiente das competições era mais descontraído e os atletas vinham até a grade para cumprimentar as pessoas. Adhemar, diz ela, logo ganhou a simpatia do público.
Ela conta que o soviético Vitold Kreyer já tinha feito um belo salto e o islandês Vilhjálmur Einersson outro melhor ainda. “Seria difícil o Adhemar ganhar”, lembra Rosemary. “Mas com a força de grupos de crianças e jovens torcendo por ele, Adhemar fez um grande salto e venceu”, conta a inglesa.
Em Cingapura – O reencontro com o atleta só aconteceria em 1977. Rosemary estava com o marido em Cingapura, de férias, passeando pela cidade em busca de um lugar para jantar. “De repente viro uma esquina qualquer e dou de cara com o Adhemar, que estava recepcionando convidados em um evento promovido pelo governo brasileiro.” Rosemary logo reconheceu o campeão e lhe contou que fazia parte daquele grupo que havia torcido por ele em Melbourne. “Ele ficou muito feliz e nos convidou para jantar.”
Elas só voltaram a ter contato, depois de trocarem muitas cartas, em 1998. “Fomos recepcionar um grupo de dirigentes a pedido do Comitê Organizador dos Jogos de Sydney e, para minha surpresa, era o Comitê Olímpico Brasileiro”, lembra. Foi com esse pessoal que ela conseguiu o endereço de Adhemar em São Paulo. E os contatos continuaram por cartas. O reencontro só surgiu com os Jogos de Sydney. “Queríamos comprar uma casa para os fins de semana, quando Wilfred teve a idéia de comprar um apartamento próximo ao Parque Olímpico e sugeriu que convidássemos Adhemar para ficar conosco”, conta. O brasileiro aceitou e deve ficar em um condomínio de alto padrão ao lado da Vila Olímpica. Na sacada, além de uma bandeira da Inglaterra e outra da Austrália haverá uma do Brasil. “Assim que Adhemar chegar!”, diz Rosemary.
O Estado de S.Paulo