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Mireya Luis é a vilã que cairia bem ao Brasil
Domingo, 10 Setembro de 2000, 02h09

Sydney - Para os brasileiros, ela ganhou um ar de vilã, destruidora de sonhos. Mas quem dera que toda vilã fosse talentosa dessa forma. Quem dera que tivéssemos uma dela por aqui. Com certeza, o vôlei feminino faria companhia ao masculino como único ganhador de medalha de ouro olímpica em esportes coletivos. Mireya Luis bateu forte no sonho brasileiro em Atlanta, tirando o Brasil da final da Olimpíada. Agora, em Sydney, está de volta para comandar o time cubano em busca do terceiro título consecutivo e encerrar sua carreira internacional.

Um terceiro título consecutivo que seria uma façanha. Em toda a história do esporte coletivo olímpico - incluindo esportes como hóquei sobre grama e pólo aquático - apenas três seleções conseguiram manter um domínio por mais de duas olimpíadas. Os Estados Unidos tem o recorde com a sequência de sete títulos no basquete entre 1936 e 1968. O hóquei indiano foi hexacamnpeão e o pólo aquático britânico foi tetra no começo do século. Outras catorze equipes conseguiram bicampeonatos na história olímpica, mas fracassaram ao tentar o terceiro título. Em Sydney, além do time de Mireya, o beisebol cubano e o basquete norte-americano vão lutar pelo tri.

A geração de 1967 Aos 33 anos, Mireya já prepara sua despedida das quadras depois de colecionar títulos. Bicampeã mundial, bicampeã olímpica, tetracampeã pan-americana, bicampeã da Copa do Mundo, ela representa uma geração de jogadoras cubanas que se tornou quase imbatível: a geração de 1967. Mireya, Regla Bell, Magaly Carbajal, Lilia Izquierdo, as cubanas iniciaram sua hegemonia no Pan-Americano de Caracas, em 1983. Mireya tinha 16 anos e Cuba levou o primeiro de seus quatro títulos consecutivos, série só interrompida no ano passado, com a derrota para o Brasil na final de Winnipeg.

Três anos depois, Mireya ficou grávida. Hoje tem uma filha de 14 anos e é casada com outra legenda do vôlei cubano: o atacante Joel Despaigne, atacante da Seleção nas duas últimas Olimpíadas. "Para mim, Joel é marido, treinador e fonte de inspiração", costuma dizer ela.

Mireya voltou a ganhar o Pan-Americano em 1987, em Indianápolis, mas o reconhecimento mundial de melhor jogadora do mundo ainda demorou um pouco para vir. Em 1990, ela sofreu uma contusão no joelho que quase arruinou sua carreira. No ano seguinte, já despontou como melhor atacante do Grand Prix, no primeiro título internacional conquistado pela geração de 1967.

E em 1992, veio a consagração. Barcelona viu uma atacante que impressionava na hora de atacar, alcançando a bola a 3,38 m do chão, dois centímetros a mais que Carlão, atacante brasileiro campeão olímpico em Barcelona. Isso porque Mireya tem 1,73 m e Carlão, 1,96.

As cubanas venceram todos os jogos, entre eles um 3 sets a 1 nas brasileiras, e levaram a medalha de ouro para Havana. Na recepção, Mireya se encontrou com Fidel Castro. "O beijo e o abraço que ele me deu aquele dia são coisas que nunca vou esquecer. De lá para cá, ele sempre me liga durante as competições, até para me confortar quando estamos perdendo", diz ela.

A glória de Mireya no vôlei estava começando e a rivalidade com as brasileiras também. O jogo de Barcelona criou um roteiro que até hoje não mudou no vôlei feminino. Nas competições mais importantes, as cubanas sempre acabam com as brasileiras.

Parte 2: 1994. Cenário: Ibirapuera. As brasileiras chegaram pela primeira vez à final de um Campeonato Mundial, mas não foram páreo para as "Morenas do Caribe", que tinham sido derrotadas alguns meses antes no Grand Prix. 3 a 0, com um destroçante 15 a 2 no primeiro set.

Salta, chica Mas o auge da rivalidade ocorreu em 1996. Na Olimpíada, as brasileiras venceram com facilidade por 3 a 0 na fase de classificação e voltaram a se enfrentar na semifinal, em um jogo que entrou para a história por dois motivos. A espetacular vitória cubana por 3 sets a 2 e a pancadaria depois do ponto final.

Durante todo o jogo, as cubanas provocaram as brasileiras. "Salta, chica, salta!", gritavam Mireya e companheiras a cada ataque brasileiro que conseguiam bloquear. As brasileiras foram se enervando e no final, jogadoras dos dois times se atracaram na quadra e nos vestiários. Ana Paula levou um soco nas costas, algumas brasileiras saíram feridas e prestaram queixa contra as adversárias na polícia de Atlanta. Meses depois, as brasileiras venceram em uma partida do Grand Prix e os dois lados voltaram a brigar.

Em 1998, novo encontro na semifinal do Campeonato Mundial. Mireya, que não estava bem fisicamente, jogou pouco, mas o Brasil sofreu nas mãos de Yumilka Ruiz, que nasceu em Camaguey, mesma cidade de Mireya e mostrava a mesma potência de ataque. 3 a 1 Cuba e o fim do sonho da geração de Ana Moser e Fernanda Venturini conquistar um título mundial. "Não tenho nenhum interesse em jogar lá", disse Mireya, quando algumas equipes brasileiras quiseram contratá-la para jogar a Superliga. "Não gosto muito do país", disse, explicando um pouco as vitórias que conseguiu.

Agora, Mireya pode voltar a enfrentar as brasileiras em sua despedida de Olimpíadas. Os dirigentes cubanos fizeram uma proposta para o Comitê Olímpico Internacional, indicando seu nome para a Comissão de Atletas.

Antes, vai empurrar Cuba em Sydney. Como fez no Grand Prix deste ano, quando as cubanas conquistaram outro título. batendo as gigantes russas na final. "Elas estão jogando muito, batendo forte", diz a brasileira Virna.

Jornal da Tarde


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