Canberra - As mulheres têm a fama de falar muito. No caso da seleção brasileira feminina de vôlei, uma das preocupações do técnico Bernardo Rezende, o Bernardinho, é justamente com o fato de ter um grupo calado em quadra. Para ele, é fundamental a comunicação entre as atletas para a melhora do desempenho do time na Olimpíada de Sydney.
No jogo-treino realizado nesta segunda-feira, no Instituto Australiano de Esportes, em Camberra, contra a seleção da casa, Bernardinho voltou a pedir mais conversa durante a partida em que o Brasil venceu por 5 sets a 0, com parciais de 25/22, 25/14, 25/13, 25/17 e 25/23. "As jogadoras ficam constrangidas em falar, em demonstrar liderança em quadra", adverte o treinador.
"Mas este comando é necessário, deve ser dividido porque na quadra, todas são iguais." A falta de comunicação, na verdade, é apenas mais um sintoma da juventude do time, que tem apenas três jogadoras da equipe que conquistou a medalha de bronze na Olimpíada de Atlanta, há quatro anos: Fofão, Virna e Leila. E as três eram reservas naquela ocasião.
Com aquela seleção, Bernardinho não se preocupava com lideranças. "Ana Moser, Ana Flávia, Márcia Fu e Fernanda Venturini falavam o tempo todo", lembra Bernardinho. "Eram lideranças em tempo integral."
Na geração atual, a única que desempenha o papel de comandante é a atacante Virna, que voltou a jogar nesta segunda-feira depois de mais de um mês afastada por causa de uma inflamação num osso do pé direito. A jogadora sentiu um pouco de falta de ritmo, mas demonstrou bom condicionamento físico e a tão desejada comunicação nos dois sets e meio em que esteve em quadra.
"Falo bastante porque é preciso muitas vezes arrumar a casa", brinca Virna, que tem o respeito das atletas mais novas. "Não tenho filhas tão crescidas assim, mas sempre acabo sendo uma mãezona para a moçada." A atleta potiguar, de 29 anos, gostou de seu desempenho. Ela gostaria, porém, de ter ficado mais tempo no jogo.
"O Bernardo segura as rédeas, temendo que eu volte a sentir o problema", observa a atacante, que passou pouco antes da partida por uma sessão de acupuntura. "Estou me sentindo confiante e certa de que disputarei bem a Olimpíada." A última atuação de Virna havia sido no dia 6 de agosto, em Macau, na vitória por 3 a 2 diante da China, pela primeira etapa do Grand Prix Mundial.
Depois disso, ela ficou em tratamento rigoroso, tendo andado de muleta durante uma semana. Na preparação para a Olimpíada de Sydney, Virna fez treinos especiais, utilizando colchões para amortecer os saltos. "Ela voltou bem e a sua atuação esteve na média do grupo, o que é algo muito positivo, já que não atuava há muito tempo", avalia Bernadinho.
"Ela vai ter a oportunidade de ganhar ritmo nas partidas contra o Quênia e a Austrália, nas duas primeiras rodadas da fase de classificação, para mostrar melhores condições contra a China, nosso adversário mais forte", explicou Bernardinho, já analisando a chave do Brasil na primeira fase dos Jogos.
Agência Estado