Sydney - Já está fervendo a guerra de nervos no principal conflito político-esportivo dos Jogos Olímpicos, o confronto entre Cuba e Estados Unidos no beisebol.
Os dois países separados por 180 quilômetros de mar e 38 anos de embargo econômico têm o mesmo esporte nacional, paixão idêntica pelo jogo do taco e a mesma obrigação de conquistar o ouro em Sydney. Para ambos, a medalha no beisebol é antes de tudo uma questão de honra.
Os norte-americanos bateram primeiro na guerra das palavras. ``O que mais me deixa irritado é que eu não posso vencer enquanto os jogos não começarem'', disse o técnico Tommy Lasorda, figura emblemática do beisebol profissional americano que fez fama ao levar os Los Angeles Dodgers a dois títulos no campeonato dos EUA.
``O time deles aqui é só um pouquinho melhor do que a seleção que perdeu em Winnipeg (Jogos Pan Americanos), isto dá muita tranqüilidade aos cubanos. Eles têm mais confiança de que vão poder ganhar dos gringos sem problemas'', afirma Fausto Triana, jornalista especializado em Beisebol da agência cubana Prensa Latina. ``Perder para os gringos? Pelo amor de Deus. Só não digo que é impossível porque estamos falando de esporte. É como vocês brasileiros imaginarem que o Brasil poderia ter perdido para a França na final da copa.'', brinca ele.
Na guerra dos retrospectos a vantagem cubana sobre os EUA chega a ser impressionante. A equipe da ilha está invicta em Jogos Olímpicos. Venceu os 18 jogos que disputou e levou os dois ouros, Barcelona e Atlanta, disponíveis desde que o Beisebol se transformou em esporte olímpico oficial. Nos campeonatos mundiais, onde os americanos entram com seleções formadas por atletas amadores, os cubanos foram campeões em 23 das 25 edições disputadas desde 1939. Não perdem um título mundial há 19 anos.
Para tentar acabar com a superioridade cubana no esporte, a Federação Internacional aceitou a inclusão de atletas profissionais nos times a partir da Copa Intercontinental disputada em Sydney no ano passado. Mesmo assim a seleção norte-americana ainda não teve chance de se aproveitar do talento de seus melhores especialistas nos Jogos de Sydney. A Olimpíada acontece justo na época em que é disputada a fase final das chamadas ``Grandes Ligas'', a primeira divisão do campeonato norte-americano.
O conflito de nervos entre os dois países é tão intenso e importante que a seleção de Cuba só vai definir a lista dos jogadores que vão participar dos jogos um dia antes da competição começar.
``Está tudo sendo tratado como um grande mistério que é para confundir os adversários. O time nunca se preparou tão bem. Passaram mais de um mês jogando contra equipes profissionais no Japão antes de chegar em Sydney e pela primeira vez na história disputaram o campeonato cubano jogando com tacos de madeira (antes usavam de alumínio) como fazem todos os outros países'', diz Triana.
Reuters