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Bronze transforma "Bala" em herói
Domingo, 17 Setembro de 2000, 13h25

Sydney - A medalha de bronze olímpica, ganha pelo Brasil no revezamento 4x100 m, livre, foi um prêmio para o baiano Edvaldo Valério, o Bala, de 22 anos, o primeiro nadador negro da história da natação brasileira a disputar uma Olimpíada. Um prêmio ao sacrifício de quem chegou a pensar em desistir da natação, em 1994, quando não encontrava apoio para treinar. Com a ajuda da família foi estimulado a ir em frente.

Para isso, Edvaldo acordava de madrugada, com tempo para percorrer o roteiro que incluía dois ônibus, da periferia de Salvador até a Costa Azul, onde fica o clube Baneb - ainda agora prepara-se em piscina de 25 metros (a olímpica tem 50 m).

As travessias no mar, desde os 14 anos - a última competiu no ano passado - tinham o objetivo de levantar recursos. Fazia travessias longas, de 12 quilômetros, como a de Mar Grande a Salvador, pensando na premiação. "Cheguei a tirar ele durinho da água do Rio São Francisco por causa do frio", recorda-se o técnico Sérgio Luiz Sampaio Lacerda Silva, seu treinador desde os oito anos.

“Era bom, eu ganhava dinheiro com isso, porque lá em Salvador o esporte amador é amador mesmo, o cara tem de ser muito bom para conseguir alguma coisa, se não, não consegue", observa. Comenta que passou o dia seguinte à conquista da medalha sonolento. Ficou "rolando na cama", tamanha a euforia. A música baiana apenas ajudou a descontrair.

Mas, além do dinheiro para competir, as travessias acabaram por definir o estilo de nadar de Edvaldo, como um velocista. É um nadador de sprint - que começa mais lento e aperta no fim "quando os outros estão morrendo", segundo define o treinador. "É meu ritmo natural", observa o baiano que ganhou o bronze do revezamento após os 350 metros.

É um nadador que faz um treino incomum para um velocista, nadando 10 a 12 quilômetros por dia, quase como um fundista. Mas foi esse ritmo incomum que deu a Edvaldo a vaga de último homem do revezamento do Brasil e a responsabilidade de fechar a prova assegurando a medalha (3min17s40). O nadador ainda agradeceu a "humildade e a confiança" que Gustavo Borges e Fernando Scherer, o Xuxa, tiveram para aceitá-lo como o atleta que definiria o revezamento.

A motivação adicional para treinar pensando em ser o terceiro nadador do País mais rápido nos 100 metros, livre, foi o fato de ter ficado fora da equipe que foi aos Jogos Pan-Americanos de Winnipeg, no ano passado. Edvaldo afirma que ainda pode melhorar o seu nado, mas não consegue pensar em sair do Brasil - é muito apegado à família, ao pai Edvaldo, à mãe Aina e a irmã Valéria.

"Por enquanto, não penso nessa possibilidade", disse, sobre ir para os Estados Unidos, para fazer o curso de educação física (tem o segundo grau completo) em uma universidade em que possa treinar ao mesmo tempo. Mas o próprio treinador admite que Valério não tem todas as condições de infra-estrutura fora da água que precisaria - aparelhagem para musculação, a ajuda de fisiologistas, biomecânicos, nutricionistas etc.

O nadador passou a ter um apoio mais significativo do Baneb quando uma mulher, Tânia Cardoso, assumiu o departamento de marketing do clube e resolveu aceitar o projeto do técnico Sérgio, chamado Sydney 2000. Isso foi em 1997. "De lá para cá, ele só não foi ao revezamento nos Jogos de Winnipeg", comenta Sérgio, recordando-se que, no último Troféu Brasil, Edvaldo ganhou os 50, 100 e 200 metros. Além do Baneb atualmente Valério tem patrocínio dos Correios e do Vasco e planos de classificar-se para o Mundial de Fukuoka, em 2001.

Agência Estado

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