Sydney - A vida de Sanderlei Parrela virou do avesso no fim de junho quando recebeu a notícia que o seu controle antidoping, realizado em maio, no Meeting de Atletismo, no Rio, teve resultado positivo. Depois de seu primeiro treino em Sydney, para onde viajou sem saber se irá competir nos Jogos, ele disse que os prejuízos que acumulou são grandes, inclusive financeiros. Seus contratos de patrocínio, com a Fila e a Wizards, estão bloqueados e, por causa da suspensão imposta pela Federação Internacional de Atletismo (IAAF), ele deixou de competir em cerca de seis ou sete provas na Europa, cujos cachês seriam bons para quem é vice-campeão mundial dos 400 metros (ano passado, em Sevilha, com 44s29). Mas, o pior prejuízo na avaliação do brasileiro é moral, é o de ser chamado de mentiroso.
"Há atletas que são pegos, que utilizaram drogas, mas negam", afirma Parrela. "Eu sou um cara limpo e essa é uma situação que pensei que eu nunca iria enfrentar, mas não tinha outro jeito, se não sou culpado tenho de desmentir", desabafou. O próprio Sanderlei, de 25 anos, confessa que quando sabia sobre um caso de doping achava que o acusado era mesmo culpado, "que usou e acabou".
O atleta tem enfrentado momentos constrangedores, como a sua própria presença na Vila Olímpica de Sydney. Sanderlei acha que muitos estão estranhando a sua presença, não achavam que ele teria coragem de vir à Austrália com uma situação indefinida. Disse que desde que teve o resultado positivo por norandrosterona, substância proibida por contribuir para aumentar a massa muscular, tem procurado descobrir a causa. Mandou examinar todos os suplementos alimentares que consome. "Gastamos US$ 1.750,00 em testes, feitos em um laboratório do Tennessee, e nada foi encontrado", afirma o técnico Luiz Alberto de Oliveira.
Segundo o treinador, Sanderlei toma carboidratos, aminoácidos, complexos vitamínicos e creatina, como a maioria dos atletas. Parrela chegou a pensar se não havia alguma coisa nos molhos de ervas que sua mulher prepara, se alguém poderia ter sabotado a sua água, se o seu próprio corpo produziria a substância, entre muitas outras hipóteses. "Mas não adianta, no fundo esperei de mãos atadas", revela o atleta, que treina em Sydney, mas continua aguardando uma decisão para o seu caso.
O técnico Luiz Alberto de Oliveira, que treinou o campeão olímpico Joaquim Cruz, faz parte de um grupo que sempre foi conhecido no atletismo por ser “limpo”. Ele definiu o controle positivo de Sanderlei como uma "tamancada" e lamentou que pessoas que se julgam conhecedoras do assunto, mas não são, tenham feito comentários sem estar bem informadas.
Sanderlei admite que tem tentado viver dia após dia para não desistir do que mais gosta, o atletismo. "Tenho tentado pensar que tenho apenas 25 anos e que posso fazer muito mais." Levantou a camisa, mostrou os braços e o corpo franzino. "Pareço alguém que trabalhou com doping para aumentar a massa muscular?", questionou, lembrando que seu corpo jamais poderia ser confundido com o de alguém que usa drogas. "O fato é que a decisão daquele laboratório (que apontou a substância proibida em seu corpo) está errada. Como? Não sei."