Sydney - A exemplo do que ocorreu em Atlanta, a seleção brasileira masculina de vôlei deverá voltar para casa sem medalha. Há na Olimpíada de Sydney times mais fortes, como a Itália, a Rússia e a Iugoslávia, que devem disputar os três primeiros lugares. A opinião é de um ex-atleta que conhece bem o vôlei brasileiro, a quem derrotou em torneios importantes: Andrea Zorzi, duas vezes campeão mundial (1990 e 1994) e medalha de prata nos Jogos de Atlanta.
Conhecido pelo apelido de Zorro, Zorzi foi um dos atletas mais bem pagos do vôlei italiano do final dos anos 80 e metade dos 90. No Maxicono Parma recebia tratamento de estrela e tinha torcida exclusiva nos jogos. Ele encerrou carreira aos 33 anos. Hoje, aos 35, atua como comentarista da RAI, principal rede de TV da Itália. É nessa condição que Zorzi analisa o atual estágio do vôlei brasileiro. "Olimpíada é uma competição muito especial, exige muito preparo e controle, por isso acho que Brasil e Cuba estão um estágio abaixo dos favoritos", afirma.
O italiano ressalva, porém, que o novo sistema de pontuação dá oportunidade de vitória a times que não são favoritos. Antes, quando era adotado o sistema de vantagem, a equipe tecnicamente superior sempre vencia. Agora, a situação mudou e o vôlei, em sua opinião, ganhou características semelhantes ao futebol, modalidade na qual o time mais fraco tem oportunidade de surpreender um adversário tecnicamente superior. "Um time que está perdendo por uma grande diferença pode buscar a igualdade, coisa que antes dificilmente acontecia".
Além de comentarista, Zorzi atua como produtor teatral e como light designer de uma companhia de dança. Os cabelos compridos, a barba e a roupa básica - calça jeans e camiseta - passam a impressão de alguém que não faz questão de caprichar na imagem só para agradar. "Parei de jogar porque não via no voleibol o principal foco de minha vida, um objetivo", conta. "Para que algo dê certo, a pessoa precisa empenhar todas as suas energias em sua atividade e isso não vinha acontecendo comigo".
Uma conversa com Zorzi dá a certeza que o sucesso profissional extrapolou os limites que ele poderia suportar. O italiano confirma e diz que o que ocorreu com uma geração de jogadores italianos se repetiu com grande parte dos jogadores brasileiros campeões olímpicos em Barcelona/92. "Nós tínhamos fama, dinheiro, popularidade mas pouco foco em nossas vidas e em nossas carreiras, faltava um objetivo maior e isso nos atrapalhou". Zorzi não sabe exatamente o motivo, mas acredita que o mesmo ocorreu com a geração de Tande, Marcelo Negrão, Giovane e Maurício. "O excesso de influência de empresários, de "amigos" e "conselheiros" dizendo o que os atletas devem fazer atrapalha muito o jogador".
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