Sydney - A Olimpíada de Sydney será um marco na carreira de um dos maiores astros da história do esporte. O cubano Félix Savón, reverenciado até por analistas norte-americanos como um dos maiores pugilistas do século, tentará conquistar o tricampeonato olímpico. Só dois boxeadores conseguiram esta façanha: o seu compatriota Teófilo Stevenson e o húngaro Laszo Papp. Além de tentar a terceira medalha de ouro seguida, Savón anunciou que se despedirá dos ringues, encerrando sua vitoriosa carreira, na Austrália.
Às vésperas de completar 33 anos - faz aniversário na sexta-feira -, Savón está a apenas um ano do limite de idade fixado para a aposentadoria compulsória pela Associação Internacional de Boxe Amador (Aiba). Antes de passar a lutar nos bastidores - seu desejo imediato é firmar-se como técnico, papel que já desempenha -, o pugilista quer brilhar mais do que os outros 321 atletas inscritos na modalidade. Ele estréia no torneio olímpico às 23 horas de quinta-feira (horário de Brasília), enfrentando o nigeriano Rasmus Ojemaye, como o grande favorito.
O favoritismo de Savón é baseado numa carreira de mais de 15 anos, com 400 vitórias e apenas 17 derrotas. É o peso pesado amador mais premiado da história. Um exemplo disso é que detém seis títulos de campeão mundial, um dos quais, obtido em 1991, em Sydney. O sétimo título poderia ter sido conquistado no ano passado, em Houston, nos Estados Unidos, mas Félix Savón seguiu a orientação dos dirigentes cubanos e recusou-se a lutar contra o norte-americano Michael Bennet na final em protesto contra decisões da arbitragem e dos jurados em combates anteriores. Por causa do protesto, a delegação cubana quase foi excluída da Olimpíada de Sydney.
Casado e pai de cinco filhos, Savón já poderia ser tricampeão olímpico. Afinal, ele domina a categoria dos pesados - até 91 quilos - no boxe amador desde 1986, quando ganhou o seu primeiro título mundial, na cidade norte-americana de Reno. Dois anos depois, em sua melhor forma, não pôde competir nos Jogos Olímpicos de Seul por causa do boicote liderado por Fidel Castro, que queria maior participação da Coréia do Norte na organização daquele evento.
Com 1,98 metro e 90 quilos de músculos, Félix Savon foi o portador da bandeira cubana em sua viagem para a Austrália. Ele é reverenciado como um deus por seu povo por sempre ter seguido as orientações de seu governo, defendido o modelo esportivo de seu país e, principalmente, por ter recusado dezenas de ofertas milionárias para lutar no circuito profissional, seguindo exemplos como de Mike Tyson, Evander Holyfield, Lennox Lewis, entre tantos outros.
"O boxe profissional não tem nada a ver com o que eu pratico, desde as regras de proteção aos atletas e dos equipamentos até o ambiente que cerca do esporte", diz o pugilista cubano. "O dinheiro transforma as pessoas, deixa a modalidade suja, enquanto o boxe amador é muito limpo." Em Sydney, no Exhibition Halls, os principais adversários do lutador serão o norte-americano Michael Bennett e Rustam Chagayev, do Usbequistão, que derrotou Savón no Mundial de 1997, em Budapeste.
Chagayev acabou desqualificado por ter violado as regras do boxe amador e o título ficou mais uma vez com o cubano. Por causa das violações, foi suspenso do esporte por um ano, mas está de volta. Se cruzar o caminho de Savón, será mais uma oportunidade de o supercampeão mostrar que o título não está em seu poder acaso.