Sydney - Mais da metade de todos os controles antidoping que serão realizados nos Jogos Olímpicos de Sydney já foram feitos na primeira metade da competição. O balanço do controle antidoping até o dia 23 - os resultados estão demorando, em média, dois a três dias para chegar à Comissão Médica do Comitê Olímpico Internacional (COI) -, após oito dias de competições, apontam para 1.073 exames realizados para um total previsto, até o fim da Olimpíada, de 2004. Paralelamente, a organização dos Jogos também realizou cerca de 340 exames de sangue para a detecção da Eritropoietina (EPO), substância proibida usada para melhorar o desempenho em esportes que exigem resistência.
O médico brasileiro, Eduardo de Rose, integrante da Comissão Médica do COI, analisou os quatro casos de resultados positivos divulgados na primeira metade dos Jogos Olímpicos. Três deles foram provocados por uso de diuréticos. "São claramente erro de manipulação, casos de diurético, usados para reduzir peso dos atletas." Os controles positivos foram dos levantadores de peso da Bulgária Izabela Dragneva, na categoria 48 quilos, que perdeu a medalha de ouro; Ivan Ivanov (56 quilos) ficou sem a prata e Minchev Angelov (62 quilos) sem o bronze. O diurético também é utilizado para mascarar a presença de drogas proibidas, mas De Rose acredita que este seja um clássico uso para a perda de peso em categorias que tem restrições.
O quarto caso positivo foi o do lituano Andris Reinholds, atleta do remo (categoria single scull), para a substância proibida norandrosterona, um esteróide anabolizante, droga usada para aumentar a massa muscular e o desempenho. O atleta, o segundo colocado na final B da sua categoria, foi escolhido aleatoriamente e não tem medalha para perder. O Conselho Executivo do COI decidiu desqualificar e excluir o lituano dos Jogos Olímpicos.
Dúvidas - A natação terminou, com 23 recordes olímpicos e 13 mundiais, mas a discussão em torno das marcas excepcionais e, com ela, as suspeitas de doping continuam. O técnico da equipe de natação feminina dos Estados Unidos, Richard Quick, declarou que estava desapontado com o nível dos testes antidoping dos Jogos e que alguns nadadores podem realmente estar usando substâncias proibidas. A nadadora Jenny Thompson, que tem oito medalhas de ouro, todas em provas de revezamento, ganhas desde 1992, deu uma resposta matreira quando questionada sobre a holandesa Inge de Bruijin, campeã dos 50 e 100 m, livre, e dos 100 m, borboleta.
"Não vou dizer que Inge é trapaceira, mas eu acho que essa é uma boa questão." Eduardo De Rose afirmou que foram feitos 153 exames de urina e 34 de sangue para competidores dos 400, 800 e 1.500 metros, livre, durante as provas da natação, já que esse tipo de coleta serve apenas para a detecção da EPO, um doping para provas de resistência. Os resultados ainda não estão todos concluídos - não se pode dizer ainda que todos os exames tiveram resultado negativo. Mas De Rose acha que o técnico norte-americano pode estar referindo-se ao uso do HGH, o hormônio de crescimento, uma droga que o COI ainda não tem condições de detectar e que funciona para melhorar o desempenho. "Não há teste para isso, seria ideal que tivesse."
O médico observou que um laboratório na Inglaterra está desenvolvendo um teste para detectar o HGH. "O COI acabou de injetar mais US$ 5 milhões para as pesquisas do HGH." De Rose disse que a Comissão Médica do COI está atenta aos super-resultados e observou que o único que pode afirmar é que "se algum atleta estiver usando um dia nós vamos pegá-lo". Recordou-se da nadadora irlandesa Michele Smith, que ganhou os 200 e 400 m, medley, em Atlanta. "Chegamos juntos até encaçapar", disse De Rose, referindo-se a um exame surpresa em que Michele usou suco de laranja para mascarar uma amostra de urina.