São Paulo - Os venezuelanos, que adoram beisebol, não se arrependerão se tiverem bem perto os tacos de madeira na partida de futebol que reunirá as seleções de Brasil e Venezuela, no domingo, em Maracaibo.
Candinho descobriu o que faltou ao Brasil nesta campanha medíocre nas Eliminatórias: intimidar o adversário, uma característica bem familiar aos times comandados por Luiz Felipe Scolari.
Para Candinho, a camisa amarela apenas não basta. É preciso jogadores de forte pegada e que não tenham vergonha de dar pontapés. Não foi preciso pensar muito para explicar as convocações dos veteranos Cléber e Donizete - desde já titulares para domingo.
"Os adversários estavam muito folgados contra o Brasil. Tinham a maior tranqüilidade para fazer suas jogadas. Nosso meio-de-campo muito técnico e nossa defesa respeitosa até demais não chegavam junto. Agora, vou colocar o melhor marcador do futebol brasileiro como primeiro volante, o Donizete. E lá atrás o Cléber, que já faz até tremer o atacante adversário. Além de ser um `armário', está jogando muito bem. Vai parar com essa história de tomarmos gol de cabeça. Que os venezuelanos venham disputar bolas com ele para sentir o que terão pela frente", disse, empolgado, Candinho. Coincidência ou não, Donizete e Cléber estão no Cruzeiro, equipe comandada por Felipão.
Os jogadores entenderam o recado do treinador. A começar pelo volante do Cruzeiro, de 32 anos. "Eu ficava assistindo na televisão os times que enfrentavam o Brasil ter a maior liberdade. Não entendia. No futebol é preciso marcação forte. Fiquei fora da Seleção por nove anos porque tinha fama de violento. Sinto finalmente, agora que estou amadurecido, que entenderam a minha forma de jogar. Em um time técnico, alguém precisa não ter vergonha de correr atrás do adversário e marcar, fazer falta. Isso eu vou fazer contra a Venezuela. Quero ser escalado para nunca mais deixar a Seleção", avisa Donizete.
Alto preço O volante confessa que aprendeu a se conter e não corre o risco de ser expulso. "Aprendi os atalhos do campo. Não preciso dar tanto pontapés como dava no início da minha carreira. Perdi um tempo terrível por causa disso. Foram nove anos. Joguei pela Seleção em 1991 e sei que paguei o preço, vendo jogadores piores do que eu como titulares. Tudo por causa da minha fama de vilão. Vou mostrar que uma vitória começa na marcação."
O mesmo discurso `belicista' é seguido por Cléber. Aos 31 anos, o jogador deixa claro ser ele o companheiro ideal para o técnico (e instável) Antônio Carlos. "Nós nos completamos. Ele é bastante habilidoso e eu sou mais duro, seco. Fomos bicampeões brasileiros, paulista e de um Rio-São Paulo no Palmeiras. Sinto que fui convocado para dar segurança à zaga e é o que tratarei de fazer. Não necessariamente fazendo faltas, mas impondo respeito."
Laterais protegidos - Os hábeis Ricardinho e Émerson ficarão no banco de reservas dos dois.
Candinho revela um segredo dos tempos de Wanderley Luxemburgo na seleção.
"Todos se perguntavam porque os nossos laterais não tinham a mesma eficiência no ataque que mostram em seus clubes. Cheguei à conclusão que era medo de atacar. Eles não estavam sendo protegidos como deveriam. Chamando o Donizete e o Cléber estou tranqüilo. E Cafu e Silvinho ainda mais. A nossa vitória diante da Venezuela vai começar na marcação."
Questionado sobre a idade avançada dos dois jogadores, Candinho deixa claro:
"O que me interessa é essa partida. O futuro não conta neste momento. Precisamos vencer. Se o Donizete e o Cléber tiverem força física para seguir adiante e chegar até a Copa do Mundo, ótimo. Eles que tratem de aproveitar a chance que estão tendo agora."
Donizete confessa: "Eu, que tomei um susto com a convocação, não vou deixar passar essa minha última oportunidade na seleção. Podem me cobrar, que pegada não vai faltar." Os venezuelanos estão avisados.