Porto Alegre - A odisséia dos antigos conquistadores, que se lançavam ao mar em busca de novas terras através dos próprios meios de transporte, sempre fascinou o gaúcho Luiz Achylles Bardou, 53 anos, procurador de Justiça de profissão.
Apaixonado por esportes náuticos e velejador desde a infância, em Pelotas, Bardou acaba de realizar um sonho. Percorreu a costa brasileira disputando regatas até chegar ao nordeste do país a bordo do próprio veleiro, cujo nome reflete bem os princípios de seu comandante: Justa Causa.
Não bastasse a aventura, Bardou e sua tripulação ficaram com o título do 9º Circuito de Vela Oceânica Norte-Riograndese. "Foi uma grande aventura, sim, mas planejada e cercada de todos os cuidados", enfatiza o comandante em alerta a velejadores incautos e cujo primeiro barco foi um bote de madeira, com uma vela artesanal improvisada.
A conquista em águas nordestinas foi o epílogo do projeto compartilhado com Boaventura Luis da Silva, João Alfredo Pereira, Ricardo Montenegro, Walter Dreher e Mário Richter, integrantes da tripulação, entre outros amigos de mais de uma década, e que começou na virada do ano 2000. O Justa Causa, representante dos clubes Veleiros do Sul, de Porto Alegre, e Veleiros Saldanha da Gama, de Pelotas, deixou Porto Alegre no dia 12 de dezembro de 1999 rumo ao Rio de Janeiro. No Ano-Novo, depois da queima de fogos em Copacabana, zarpou para Angra dos Reis, onde participou da tradicional procissão flutuante.
O próximo porto foi Vitória, Espírito Santo. No Carnaval, os velejadores partiram para o arquipélago de Abrolhos e passaram três dias praticando mergulho. Depois, o Justa Causa ficou ancorado em Caravelas, na Bahia, até abril. O objetivo era a regata comemorativa aos 500 Anos do Descobrimento do Brasil, entre Salvador e Cabrália, na qual o barco finalizou em quarto lugar em sua classe.
"Ficamos impressionados com a falta de organização e descaso das autoridades", conta Bardou, que, como trabalhador, levava o barco a cada porto e em seguida voltava para suas atividades no Ministério Público.
As últimas férias ocorreram em setembro passado, quando Bardou passou 30 dias embarcado. O comandante reencontrou sua tripulação no dia 9, ainda na Bahia. Disputou o 3º Rally Náutico Salvador-Recife, ficou em segundo no tempo real e venceu no tempo corrigido, já começando a causar inveja. Na competição seguinte, a Regata Recife-Fernando de Noronha, o Justa Causa, de 36 pés de comprimento (11m30cm), cruzou a linha de chegada à frente de barcos maiores, de 40 a 50 pés (entre 12 e 15 metros), mas acabou em segundo lugar.
Neste mês, na Regata Fernando de Noronha-Natal, o Justa Causa voltou a confirmar a sina de vencedor. Chegou em primeiro na classe RGS-b, à frente das embarcações maiores, da RGS-a. Uma semana depois, venceu as regatas finais do 9º Circuito de Vela Oceânica Norte-Riograndese, uma triangular e outra de barla-sota, sagrando-se campeão, para surpresa dos outros 22 concorrentes.
"O mérito é de toda a tripulação, que trabalhou afinada", conclui Bardou, modesto, muito organizado e que ainda não sabe qual será o próximo ancoradouro do Justa Causa, por enquanto atracado em Natal.