São Paulo - Seis processos, três queixas-crime e uma ação de perdas e danos. Uma pilha de documentos de seis quilos e uma fita cassete. As provas reunidas pelos advogados Michel Assef e Marcos Malucelli têm duas funções: limpar o nome de Wanderley Luxemburgo e colocar na cadeia a estudante Renata Moura Alves, que o acusou. O ex-treinador da Seleção antecipou ao Jornal da Tarde o que fará na CPI e na Justiça, mostrando os documentos que desmentem as acusações de Renata e ainda provam que foi chantageado. Abrir sua vida em público se tornou obrigação. Embora seja um dos melhores treinadores do Brasil, sua contabilidade durante anos foi a de um jogador medíocre, atrás do lucro fácil .
"Fui inconseqüente, mas não sou bandido. Perdi o cargo na Seleção por acusações infundadas. Estou no olho do furacão, mas chegou a hora da verdade", diz Luxemburgo.
A ligação de Wanderley com Renata começou em 1993. O treinador, que comprava e vendia carros - até batidos - no Rio, foi apresentado a Renata por um amigo. Ela sugeriu um grande negócio: participar de leilões e em seguida vender com lucro o que comprasse.
"Aí vem a primeira mentira de Renata. Ela jurou que tinha uma procuração total para dispor dos meus bens como quisesse. Mas a procuração que ela tinha era de arrematante. Ou seja, poderia só arrematar o que era leiloado.
Apenas isso", diz Luxemburgo. A prova: a procuração de arrematante sem vínculo empregatício feita no dia 10 de agosto de 1993, no 23º Ofício de Notas do Rio.
O lucro de Luxemburgo era maior do que deveria. "Ele desconhecia que além do desconto cobrado nos leilões, os bens que adquiria por pouco tempo e logo repassava deveriam ser declarados. Isso é tudo o que fez de errado e pagará o que deve à Receita", afirma Assef.
Renata trabalhou para Wanderley por três anos. Foi quando o treinador descobriu que era enganado. "Ela começou a usar a minha procuração de arrematante. Comprava coisas que eu não sabia, levantava dinheiro e ficava com o lucro total. Quando descobri, dispensei os seus serviços. Me ameaçou de chantagem, pedindo R$ 1,5 milhão para ficar quieta. Respondi que fizesse o que quissese. Ela então jurou que iria acabar com a minha vida e carreira e é o que está tentando fazer."
Renata procurou a Polícia Federal no dia 24 de setembro de 1996. De livre e espontânea vontade e orientada pelo pai advogado, ela deu seu depoimento acusando Luxemburgo de não pagar seus direitos trabalhistas. Para o treinador, jurou que foi convocada. O inquérito foi instaurado no dia 20 de maio de 1997. Deu origem a uma ação trabalhista que foi julgada à revelia no dia 3 de dezembro.
Luxemburgo participava da decisão do Brasileiro com o Corinthians. A ação trabalhista foi considerada procedente, mas cabia recurso a Luxemburgo.
Renata, porém, queria dinheiro. As ameaças de procurar a imprensa eram constantes. E aumentaram com os resultados ruins da Seleção Brasileira. O advogado de Renata, Aralton Lima Júnior, chegou a mandar um fax no dia 12 de setembro de 2000 cobrando o dinheiro pelo silêncio. No fax, está marcado o telefone do escritório de Lima Júnior.
Compreensivo, o advogado explicava que a quantia poderia ser dividida em dez parcelas. Assef marcou um encontro com Aralton, que repetiu a chantagem. A conversa foi gravada. A fita foi periciada por um ex-diretor do Instituto de Criminalística Carlos Éboli.
Diante das negativas, vieram as acusações de uso e até tráfico de cocaína em bolas de futebol. E participação na venda, compra de jogadores e cobrança de dinheiro nas convocações.
"Deram ouvidos às fantasias desta mulher. No mundo do futebol um treinador lida com o ego de 22 jogadores que se consideram fantásticos. A inimizade com alguns que vão para a reserva é inevitável. Não existe ambiente restrito nas concentrações ou em qualquer lugar. Como vou comandar um time ou uma Seleção usando cocaína? Traficar drogas em bolas de futebol é ridículo. Mas sei como acabar com essas bobagens. Estou à disposição para qualquer exame que prove que eu uso qualquer tipo de droga."
Quanto à participação em vendas, compras de jogadores ou recebimento de dinheiro nas convocações, Luxemburgo é direto. "Eu quero provas. Foram mentiras e mais mentiras. Meu nome será limpo publicamente. E depois não vou descansar enquanto ela não for para o lugar que merece: a cadeia."