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Clã garante poder na base do “é dando que se recebe”
Quarta-feira, 25 Outubro de 2000, 01h44

São Paulo - As várias denúncias apresentadas sucessivamente, nas últimas duas décadas, mostram claramente que grande parte da comunidade do judô não suporta mais o clã Mamede - pai, filho, filha e genro integram a atual direção da Confederação Brasileira de Judô (CBJ), no Rio.

Os demandos da família comandada por Joaquim Mamede de Carvalho e Silva já ocuparam muito espaço em jornais. Passam por contas irregulares no Tribunal de Contas da União (TCU), cobrança de viagens superfaturadas de judocas, critérios obscuros de seletivas, um jeito, enfim, mandão e polêmico de comandar - daqueles em que não se dá ouvido a ninguém - e que o próprio Mamede já batizou de um regime "democrata-ditatorial".

Mas, apesar de tudo, o clã dos Mamedes perpetua-se no poder há mais de 15 anos. Em 1985, Mamede foi eleito presidente da entidade pela primeira vez, reeleito em 1988. Mas ele chegou na CBJ em 1979, como diretor-técnico. Se a comunidade do judô desaprova por que então ele mantém-se no poder?

A resposta é simples. A família controla os votos das federações - atualmente são 26 entidades -, que têm exatamente o mesmo peso. O judô de Sergipe, Estado com 3 academias, e de São Paulo, que possui quase 400, são exatamente iguais. As duas entidades têm direito a um voto cada uma.

Atualmente, Mamede-pai é superintendente da CBJ (é inelegível por causa das contas vetadas pelo TCU). Mamede Jr. é o presidente. O genro, Marcos Madeira, o tesoureiro, e a filha, Cristina Madeira, técnica da seleção.

Estabelecer laços afetivos - é comum ser o padrinho de casamento ou de batizado de parentes de presidentes de federações. E também por meio de favorecimentos pessoais - como incluir presidentes de entidades nas chefias de delegações que viajam ao exterior, independente da competência. É assim que Mamede eterniza-se no comando. Isso não é novidade e facilmente é confirmado por pessoas que hoje estão na oposição, mas que viveram bem perto de Mamede.

Ney Wilson, presidente da Federação do Rio, técnico da seleção em Atlanta, em 1996, afirma que Mamede administra pelo "conflito, colocando uns contra os outros" e por favores pessoais. "Ele não dá um tatame para que o judô seja desenvolvido em determinado Estado, mas faz favores pessoais para o presidente daquela federação."

Legal - De acordo com o estatuto da CBJ, apenas presidentes de federações têm direito a voto. "O certo seria que clubes e atletas pudessem votar", afirmou o campeão olímpico e opositor de Mamede, Aurélio Miguel. Ele acredita que, ampliando-se o universo de eleitores, torna-se mais difícil controlá-lo. Embora questionável, o sistema de votação é legal. Segundo a Lei 9.615, de 24 de março de 1998, as confederações podem definir quem vota e se o voto será proporcional ou não.

O Estado de S. Paulo


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