São Paulo - A campanha do time na Copa João Havelange deve desencadear um verdadeiro conflito de competência entre as duas frentes que gerenciam o futebol profissional do Corinthians. A identificação dos erros que levaram o campeão mundial de clubes ao humilhante 23º lugar na competição mais importante do segundo semestre deverá alimentar uma batalha à parte entre a diretoria corintiana e a sua parceira, a Hicks Muse.
A diretoria do clube, que tanto brigou para ter autonomia nas decisões do Departamento de Futebol Profissional na época em que o contrato de parceria foi assinado - janeiro de 98 -, agora quer dividir responsabilidades. "Não há um só culpado, todos nós somos os responsáveis por tudo o que está acontecendo", diz o diretor de futebol Carlos Nujud.
A Hicks Muse, parceira responsável por todas as despesas do futebol profissional, mas que nunca teve a palavra final nas decisões, sabe que chegou a hora de usar em benefício próprio uma cláusula pela qual a diretoria corintiana tanto brigou na hora de assinar o contrato de parceria: a autonomia do futebol profissional. O contrato é claro: a Hicks Muse banca financeiramente todas as despesas, mas quem manda de fato no time profissional é o clube.
"Já estou cansado de explicar que não é a Hicks quem contrata, porque a autonomia do futebol não é sua. A empresa apenas viabiliza os pedidos da diretoria e libera ou não o dinheiro para uma eventual contratação quando o orçamento permite. Mas a autonomia total das decisões do futebol profissional é e sempre foi do Corinthians. Está em contrato. Não se trata de fugir da responsabilidade porque o time não está atravessando um bom momento, mas é injusto jogar sobre a empresa toda a culpa por tudo o que está acontecendo de ruim com o time", afirma o vice-presidente da Hicks, José Roberto Guimarães.
Prova maior de que a Hicks nunca teve a última palavra nas principais decisões foi a saída do técnico Oswaldo de Oliveira, antes da Copa João Havelange. A empresa sempre foi contra a troca de treinador, mas teve de ceder à vontade da diretoria, que, por sua vez, cedeu às pressões da Gaviões da Fiel e não renovou o contrato de Oliveira.
A Hicks também foi "voto vencido" na escolha do substituto de Oswaldo. A empresa queria Parreira; a diretoria (Carlos Nujud), Oswaldo Alvarez. De novo, prevaleceu a vontade do Corinthians.
O mesmo critério foi utilizado na contratação dos reforços. Todas as indicações foram feitas por Oswaldo Alvarez. "A Hicks apenas viabilizou aquilo que o Vadão e o Nei (Carlos Nujud) pediram. E se não fez mais foi porque o orçamento não permitiu", explica José Roberto Guimarães.
Os argumentos de José Roberto condenam indiretamente o trabalho de Carlos Nujud, o representante oficial da diretoria corintiana na parceria. Na prática, porém, Guimarães defende o companheiro, que passou a ser remunerado pela Hicks.
"Não acho que o problema seja o trabalho do Nei. Até porque, ele já está engajado na filosofia profissional. Penso que há algo mais sério por trás daquela derrota para o Palmeiras na Copa Libertadores da América. O que é exatamente não sei. Só espero que o Candinho nos dê a resposta."
Numa tentativa de impedir que os erros deste ano se repitam em 2001, o presidente Alberto Dualib já tomou uma providência administrativa no sentido de fortalecer o comando do Departamento de Futebol Profissional. Com a nomeação de jurista Roque Citadini para o cargo de vice-presidente de futebol, Nujud perde a condição de homem forte do futebol corintiano.