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Senadores e deputados se irritam com Blatter
Segunda-feira, 30 Outubro de 2000, 19h40

Brasília - O presidente do Senado, Antônio Carlos Magalhães, considerou uma "ousadia" do presidente da Fifa, Joseph Blatter, ameaçar retirar o Brasil da Copa do Mundo, por causa das duas CPIs que investigam irregularidades no futebol brasileiro. O senador disse que a Copa sem o Brasil é uma "copa capenga" e afirmou que o País tem que fazer o que for necessário "para moralizar o futebol e para entrar na Copa com a cabeça erguida".

A ameaça da Fifa também irritou integrantes das cúpulas das CPIs no Congresso. Para o presidente da CPI do Futebol, senador Álvaro Dias (PSDB-PR), Blatter demonstrou a "arrogância" tão conhecida no mundo do futebol. Ele comentou que a popularidade do esporte leva os dirigentes a se julgarem "acima do bem e do mal e dos regulamentos".

Em vez de dar palpite na investigação da CPI, o presidente da Fifa deveria, na opinião de Dias, preocupar-se em demonstrar organização no Campeonato Mundial de Clubes do próximo ano e fazer as devidas correções nas atuais regras. "O campeão não pode defender o próprio título", aponta como um dos problemas.

O presidente da CPI da Nike, deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP), enviará para a Fifa, por e-mail e também por correspondência lacrada, informações sobre os motivos da investigação. "Acho que ele está mal informado, deu muito crédito ao relato que recebeu." Rebelo está convencido de que a informação truncada só pode ter nascido dos que resistiram à CPI.

O deputado indica como prova dos equívocos das declarações de Blatter a história de suborno para garantir a presença do jogador Ronaldo, na final da Copa da França. "Queremos saber se houve pressão da Nike para escalá-lo", diz, lembrando que nunca se falou em suborno na CPI. Ele afirma que um País onde já se investigou até presidente da República (Fernando Collor), sem nenhum trauma, não será irresponsável na apuração de sonegadores de impostos. "A natureza da apuração é extra-campo, não envolve a Fifa", esclarece Rebelo.

Ele conta que recentemente a chantagem era outra: se houvesse CPI, o Brasil não seria escolhido para ser sede da Copa. Agora a pressão é para excluir o País da competição. "Seria o mesmo que tirar o Cristo da Santa Ceia", compara.

Para o relator da CPI da Nike, deputado Silvio Torres (PSDB-SP), as ameaças veladas de Blatter não se concretizarão. É uma tentativa de reforçar as pressões sobre o Congresso. As manobras adiaram a instalação da comissão em mais de um ano. O deputado acredita que, se a investigação tivesse iniciado mais cedo, talvez muitos dos problemas no futebol teriam sido evitados, como os últimos placares da seleção brasileira. Torres diz ainda que a CPI não pode ficar constrangida com as ameaças da Fifa. "Tão bom quanto participar de uma Copa, é participar limpo".

Agência Estado


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