Brasília - A ex-secretária do treinador Wanderley Luxemburgo, Renata Alves, entregou no início da tarde desta quinta-feira ao relator da CPI do Futebol no Senado, senador Álvaro Dias (PSDB-PR), uma agenda contendo todos os nomes relacionados às acusações feitas contra o ex-técnico da seleção brasileira sobre a compra e venda de jogadores.
Em depoimento realizado nesta quinta-feira no Senado, Renata acusou Luxemburgo de sempre se beneficiar de encontros sigilosos com empresários e jogadores de futebol. "Ele sempre saía com uma mala cheia de dólares", garantiu.
Ela afirmou ainda que Luxemburgo possui uma conta corrente nas Ilhas Cayman e que o ex-técnico da seleção
intermediava a negociação de jogadores de futebol; fazia transações que ela
classificou como estranhas com imóveis e veículos.
Renata Alves afirmou que as reuniões entre Luxemburgo e os agenciadores de
jogadores aconteciam em uma casa comprada pelo treinador, no Condomínio
Jardim Oceânico, na Rua Afonso Taunai, na Barra da Tijuca, Zona Oeste
carioca -o imóvel era chamado de Embaixada.
Segundo ela, Luxemburgo recebia os empresários Satamoto, Sérgio Malucelli,
Luiz Vianna, Valdir Couri, Gilmar Rinaldi e Juan Figger. As reuniões eram às
quartas e sextas-feiras, às 22h, servindo para fechar negócios.
Renata disse que parte dos pagamentos era feita em dólares, que recheavam uma pasta modelo 007, ou em depósitos em uma conta nas Ilhas Cayman.
No depoimento, ela afirmou ainda que, de 1993 a 1996, foi procuradora do
ex-técnico e comprou para Luxemburgo casas, apartamentos, carros, móveis,
jóias e objetos em leilões no Estado do Rio.
Em 1996, ela foi processada pela Receita Federal, por sonegação de impostos
e, quando compareceu ao órgão, descobriu que tinha uma grande quantidade de
bens em seu nome. A ex-secretária disse que até sua carteira de motorista
foi cassada devido a multas de carros em seu nome.
Quando questionada sobre a presença do deputado federal e vice-presidente do
Vasco Eurico Miranda às reuniões da Embaixada, Renata hesitou, mas
disse que ele esteve presente a alguns encontros e prometeu detalhes na
reunião secreta que a CPI faria depois da audiência pública.
Um indício de que as denúncias sobre o ex-técnico da seleção podem realmente
ser verdadeiras foram as tentativas de acordo feitas pelos representantes de
Luxemburgo à ex-secretária, reveladas por ela à CPI do senado. Luxemburgo
teria tentado dois acordos para que Renata Alves, se calasse sobre as
acusações que fez em público e retirasse ação trabalhista contra o técnico,
no valor de R$ 1,4 milhão.
Segundo Renata, a primeira tentativa de acordo ocorreu por intermédio do advogado
Michel Assef, que sugeriu que ela deveria se afastar do país em troca de
dinheiro. A segunda e mais recente foi intermediada por um irmão do
empresário paranaense Sérgio Malucelli e previa o pagamento da ação em troca
da desistência do depoimento na CPI. Renata declarou ainda ao final do
depoimento que se revelaria, em sessão secreta da CPI, os nomes da
Confederação Brasileira de Futebol (CBF) que estariam envolvidos na
corrupção.
Depois de declarações comprometedoras à CPI do Senado, Renata confessou que
teme pela sua própria segurança e de seu filho, que está no exterior, e por
isso, ela se recusou a responder em sessão aberta ao senador Maguito Vilella
(PMDB-GO), quem são as pessoas que ela chamou de "mafiosos do futebol
brasileiro".
O senador Álvaro Dias pediu a quebra do sigilo bancário do treinador no Brasil e no exterior, da Luxemburgo Veículos e da Traffic, intermediária no contrato firmado entre a CBF e a Nike.