São Paulo - A atitude do presidente da Federação Paulista de Futebol (FPF), Eduardo José Farah, que anunciou que deixará o cargo em dezembro e uma Liga Paulista será criada em substituição à federação serviu, na Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo, como um motivo a mais para que os deputados acelerassem o pedido de aprovação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do futebol paulista.
O deputado estadual Milton Vieira (PL) mostrava indignação com a criação da Liga Paulista. Segundo ele, o fato de a federação repassar seu patrimônio para os clubes acabará prejudicando as agremiações de menor porte, já que, em princípio, o patrimônio ficará sob administração das sete maiores equipes do Estado. "Agora, o comando estará com o chamado Clube dos 7. E os outros?"
Para o deputado, que considera que Farah está renunciando ao cargo, a decisão do presidente da federação é desmoralizadora para o futebol. “Exatamente por sua saída abrupta é que nossas investigações irão se iniciar." Se
a reação ao anúncio de sua saída feito por Farah pegou de surpresa os presidentes dos clubes grandes, entre as equipes do interior do Estado o sentimento, hoje, também era de preocupação. Muitos até apóiam a criação de uma Liga Paulista, mas eles acham que deveria haver um prazo maior para a instituição definitiva do novo modelo.
Entre os clubes sem a mesma tradição dos considerados grandes, a reclamação geral era de que a maioria dos presidentes não foi consultada por Farah sobre a criação da Liga. "Na condução da Liga, é preciso que haja representantes de todas as divisões," ressaltou Ricardo Ribeiro, presidente do Botafogo de Ribeirão Preto, clube que atua na Série A1. Para Ribeiro, a assembléia do dia 14, que deverá oficializar a saída de Farah e a criação da Liga, poderia adiar a decisão. "É pouco tempo para uma definição de tamnha importância."
RETROCESSO - Para alguns dirigentes, como o presidente do Nacional, da capital, que disputa a Série A2, Ayrton Santiago, o surgimento da Liga é um retrocesso, e relembra a primeira metade do século, quando o futebol paulista viveu seus piores anos de turbulência.
Na ocasião, por causa dos diferentes interesses dos clubes, o Estado chegou a ter duas Ligas, a Associação Paulista de Futebol (Apea) e a Liga Paulista de Futebol (LPF). Em 1929, descontente com a profissionalização do futebol, em razão de sua popularização, o Clube Atlético Paulistano, uma das mais tradicionais equipes da época, extinguiu seu departamento de Futebol.
Na opinião do ex-presidente do Santos, Samir Abdul-Hak, membro do Comitê Executivo da federação, é cedo para se avaliar o impacto da decisão de Farah. Abdul-Hak esteve presente na reunião em que Farah comunicou seu desejo de deixar o cargo. Segundo ele, os dirigentes presentes ficaram atônitos, sem saber o que dizer. Ainda sem ter analisado o assunto com maior profundidade, o ex-presidente santista ressaltou que, apesar de a Liga mudar a estrutura do futebol paulista, ela já tem seu embrião no atual modelo da FPF. "O patrimônio da entidade, por exemplo, já é dos clubes," disse. "Neste caso, a mudança seria apenas no papel", completou.
Já o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil em São Paulo (OAB-SP), Rubens Approbato Machado, que um dos quatro vices da federação, descartou a possibilidade de assumir o comando da Liga. Approbato foi um dos indicados por Farah para esta função, mas adiantou que a mudança deve ser total. "Não pretendo mais atuar na federação. É necessária uma modificação de toda a estrutura atual."