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No Senado, Renata acusa Wanderley e empresários
Quinta-feira, 09 Novembro de 2000, 19h42
Atualizada: Quinta-feira, 09 Novembro de 2000, 19h43

Brasília - A ex-secretária do técnico Wanderley Luxemburgo, Renata Moura Alves, fez nesta quinta-feira novas denúncias contra ele e contra empresários de jogadores, intermediários, doleiros e dirigentes de clube no depoimento de mais de três horas que prestou à CPI do Futebol do Senado. Parte de suas declarações, na qual teria citado o nome de todas essas pessoas, foi feita em sessão secreta. Na parte pública do depoimento, Renata acusou Luxemburgo de fazer remessa ilegal de dólares para o exterior "de 15 em 15 dias".

Segundo ela, o dinheiro seria depositado no paraíso fiscal das Ilhas Cayman, onde o técnico mantinha uma conta bancária. "Ele dizia que era muito rico, muito poderoso e que no futuro iria morar na Europa", afirmou. O presidente da CPI, senador Álvaro Dias (PSDB-PR), considerou "contundentes" os termos do depoimento.

"Há acusações tão graves que não podemos fazer nenhum tipo de julgamento antes de ouvir a outra parte", declarou.

Os senadores aprovaram vários requerimentos de quebra de sigilo bancário, telefônico e fiscal. Um deles pede ao Banco Central informações sobre contas de Wanderley Luxemburgo e da empresa Traffic, no período de 1993 até outubro último. Os demais requerimentos estão relacionados ao nome de pessoas citada por Renata na parte sigilosa de suas declarações.

De acordo com a ex-secretária, Luxemburgo recebia "vultosas" quantias de dólares como pagamento de "acertos" que fazia na "embaixada", como era chamada a casa situada na avenida Afonso de Taunay, na Barra da Tijuca - que foi demolida para dar lugar a um prédio - onde ele costumava se reunir às quartas e sexta-feiras à noite com empresários, doleiros e dirigentes de clube. O vice-presidente do Vasco da Gama, Eurico Miranda, seria um dos freqüentadores dessa reunião, segundo Renata Alves.

Também estariam lá Wadih Assady Coury, Juan Figger, Marcel Figger, Gilmar Luiz Rinaldi, Luis Vianna e Sérgio Malucelli, além de 11 outros empresários. Os doleiros pagavam ali mesmo os acertos de compra e venda de jogadores combinados com Luxemburgo, que na época - entre 1993 e 1996 - era técnico do Palmeiras. Ela disse na sessão secreta que os jogadores Mancuso, Macula e Amaral teriam sido negociados nesses esquema.

No depoimento secreto, a ex-secretária contou que nessas reuniões também eram "arranjados" os resultados de jogos realizados dali a poucos dias. A depoente disse não se lembrar de ter visto árbitros participando dessas reuniões. Esses encontros, conforme informou, se estendiam madrugada adentro, muitas vezes animados por jogos de cartas.

A ex-secretaria disse que Luxemburgo saía da embaixada levando os dólares na pasta 007 que ficava guardada no seu apartamento. "No máximo 10 dias depois, ele passava lá para pegar a mala dele", informou. "Às vezes eu atendia o celular dele e eram empresários dizendo que o depósito já estava lá fora", contou.

Renata Alves disse que muitas vezes viu Luxemburgo se queixando por ter de escalar jogadores do Palmeiras contra a sua vontade. "Ele sempre teve problemas na escalação do Palmeiras", afirmou. Outra informação da ex-secretária, é que cinco contadores da Parmalat se encarregariam de acertar as contas de Luxemburgo, de sua mãe e de sua mulher com a Receita Federal, inclusive regularizando os bens que ela arrematava em leilão.

Vaidoso - Renata traçou na CPI um perfil extremamente negativo de seu ex-patrão. Segundo ela, Wanderley Luxemburgo peca por vaidade e pelo prazer em exibir suas posses, além de ter compulsão por comprar, "podendo ser um cinzeiro ou um apartamento na Sernambetiba". "Ele mesmo dizia que era muito esperto", constatou. A ex-secretária disse que nunca conseguiu entender o relacionamento que o técnico vinha mantendo ultimamente com o presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ricardo Teixeira, contra quem ele já havia se manifestado várias vezes.

"Wanderley não nutria grande afeto pelo Ricardo Teixeira, não", declarou. "Ele dizia que qa CBF era uma máfia e que por causa disso jamais iria dirigir a seleção".

De acordo com a depoente, Wanderley Luxemburgo recebia "vantagens financeiras" por tudo o que fazia, "desde o boné que usasse até o copo d’água que tomasse". O técnico, segundo ela, tinha passe livre no aeroporto internacional do Rio de Janeiro, onde transitava "por dentro, sem ter de passar pela inspeção da bagagem".



Agência Estado


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