São Paulo - Recordes e adversários poderosos não são os maiores obstáculos na vida de um atleta paraolímpico. Se a realidade de um esportista "convencional" no Brasil é complicada, a situação de um portador de deficiência, seja ela física ou mental, é agravada por fatores como falta de infra-estrutura adequada às suas necessidades e desinformação generalizada da sociedade, o que acaba causando o preconceito. Apesar disso, os 64 atletas que estiveram nos Jogos Paraolímpicos de Sydney obtiveram resultados expressivos e conquistaram 6 medalhas de ouro, 10 de prata e 6 de bronze, o que resultou na 24ª colocação.
Atualmente, calcula-se que o contingente de pessoas portadoras de algum tipo de deficiência atinja 10% da população, ou seja, cerca de 15 milhões de brasileiros. Desses, aproximadamente 10 mil são praticantes de alguma modalidade. Os problemas enfrentados por essas pessoas prolongam-se até o esporte. Os usuários de cadeira de rodas são um caso típico. Além de não poderem locomover-se com a mesma desenvoltura dos demais cidadãos, eles ainda precisam pagar até R$ 5 mil por uma cadeira especial para a prática esportiva.
Outra séria dificuldade é o transporte. A delegação que viajou para Sydney costuma passar por alguns apuros no momento de embarcar em aviões. "Acontece que certas aeronaves não possuem cadeiras especiais, então os portadores de deficiência precisam ser carregados, seja para entrar, sair ou ir ao banheiro", explicou a mesatenista Maria Luiza Passos, representante brasileira nos Jogos de Atlanta, em 1996.
Protestos - Já os esportistas cegos lamentam a falta de estrutura dentro e fora da área de jogo. Eles afirmam que a importação de material é necessária, mas não existe qualquer tipo de incentivo para reduzir o preço dos equipamentos. Isso ocorre, por exemplo, com o Golbol, modalidade praticada com uma bola fabricada na Alemanha, que carrega guizos em seu interior, como é feito também no futebol. "Acontece que essas bolas chegam para nós custando cerca de R$ 500 cada uma", afirmou o vice-presidente da Associação Brasileira de Desportos para Cegos (ABDC), David Farias Costa.
Outra barreira destacada por ele diz respeito à estrutura de apoio montada em eventos dentro e fora do País. "Quando vamos acompanhar em loco as provas, mesmo em competições que envolvem cegos, precisamos levar alguém junto para narrar o que está acontecendo, já que a organização nunca providencia um locutor", disse o dirigente.
O fato de não poder contar com os melhores equipamentos é a maior frustração dos competidores amputados. O aperfeiçoamento das próteses faz com que os atletas de países desenvolvidos, que têm acesso aos modelos mais avançados, participem de competições com vantagem sobre os concorrentes. "É como uma corrida entre uma Ferrari e um Fusca", comparou a tesoureira da Associação Brasileira de Desporto para Amputados (ABDA), Carmem Lúcia Fogaça.