Paris - Além do inseparável técnico Larri Passos, uma presença feminina tem se destacado ao lado de Gustavo Kuerten em alguns dos torneios da temporada 2000. Não, para infelicidade dos paparazzi de plantão, não se trata de um novo amor do campeão.
Mariângela Pinheiro de Lima, 39 anos, carioca radicada há 16 anos em Florianópolis, justifica suas viagens junto ao jogador pela profissão: fisioterapeuta.
Mariângela acompanhou Guga nos torneios de Roma, Hamburgo, Cincinnati, Indianapolis, Lyon e, agora, Paris. O jogador apareceu na sua clínica em 1998, indicado por um médico que o havia alertado sobre seus problemas de postura. Na ocasião, ela aplicou um tratamento de uma semana, logo antes da disputa da Copa Davis, e depois os dois nunca mais se viram.
Neste ano, as constantes dores nas costas levaram Guga de volta a seu consultório.
Que ninguém se assuste, Guga vai muito bem de saúde, obrigado. Mesmo as costas já não incomodam mais. O trabalho da fisioterapeuta foi solicitado como prevenção e também para melhorar o rendimento do jogador. Mariângela tem desenvolvido um trabalho com a musculatura de Guga, para redistribuir suas forças de forma equilibrada, corrigindo a postura, evitando a tensão e, portanto, a dor.
Segundo ela, com os exercícios aplicados, aquela aparência corcunda do jogador –sifose no linguajar médico– aos poucos vem sumindo.
"Guga não era sifótico. Mas tinha o quadril e o tórax numa posição retrovertida, ou seja, caída. Hoje, ele está mais ereto, mais forte", explica.
O peito escavado do jogador, que pode ser notado a cada vez em que troca de camisa em quadra, definido pela fisioterapeuta como "alteração geométrica no tórax", limitava seus movimentos de rotação, por exemplo.
"Ele sempre foi ótimo de esquerda, mas para realizar essa rotação havia um custo energético muito alto, que se manifestava pela dor nas costas. Era uma movimentação errada. A postura é a base do movimento, observa.
Mariângela desenvolveu uma técnica própria, batizada de Reequilíbrio Toráxico Abdominal (RTA), tema de cursos que tem ministrado pelo país desde 1991. Seu trabalho é baseado em terapias chamadas de globais.
Segundo ela, todos os tenistas sentem dor, devido a um grande esforço físico diário, com movimentos muito repetidos. Mas, garante, é uma dor que pode ser evitada.
"É preciso ver o corpo como um todo, e não de forma segmentada. Por que alguém sente dor nas costas? Pode ser porque o quadril não dobra, por exemplo. Se uma pessoa é tratada de maneira global não sentirá dor, como é o caso de Guga atualmente."
Mariângela usa ainda no trabalho com Guga a técnica Reeducação Postural Global (RPG) e princípios de outros dois procedimentos: o chamado de Cadeias Musculares e o método inglês Bobath, sustentado em conceitos de movimento. Quando acompanha o jogador nos torneios, ela aplica seus métodos, seja por meio de alongamentos, massagens ou outros exercícios, antes e depois dos jogos e treinos. Há programas específicos para cada tipo de piso, rápido ou saibro, e para determinados movimentos, como o saque ou a batida de esquerda.
"O Guga tem um talento enorme. Num determinado momento, seu físico estava impedindo-o de expressar esse talento. Mas a cada dia ele vem melhorando."
As técnicas e métodos de complicadas siglas têm um único objetivo, resumido por Mariângela com a precisão de um ace. "Realizo um trabalho de preparação para que se possa agüentar o tranco que é jogar tênis todos os dias."
Os resultados em quadra e o ranking de Guga comprovam que o esforço tem sido recompensado.