Praga - Emil Zatopek, tetracampeão olímpico, se lembrava "como se fosse ontem" desta noite de 20 a 21 agosto de 1968 na qual protestou contra a ocupação de seu país, e teve que trocar seu quepe de coronel pelo de mineiro de mina de urânio.
Em agosto de 1998, na véspera do 30° aniversário da liquidação pelos tanques soviéticos do amplo movimento reformista chamado Primavera de Praga, simbolizado pelo líder comunista Alexander Dubcek, o ex-atleta contava à AFP como ele e seus amigos souberam, "estupefatos", da ocupação de seu país pelo rádio.
"Fomos em plena noite à rua Vinohradska no coração de Praga, em frente à sede da rádio atacada pelos tanques soviéticos e búlgaros. Uma multidão imensa protestava contra a invasão. Pessoas me reconheceram e se puseram a gritar: Zatopek, Zatopek..."
"Peguei um microfone e improvisei um discurso, no qual pedia aos exércitos de ocupação a respeitarem uma trégua olímpica, como na antiguidade. Estávamos então a algumas semanas dos JO do México."
"Aplausos explodiram em torno dos tanques dos exércitos dos 'países irmãos", lembrava-se aquele que o mundo chamou a 'locomotiva checa' durante os jogos de 1948 em Londres (onde venceu nos 10.000 metros) e quatro anos depois em Helsinque (os 5.000m, os 10.000m, a maratona).
"Eu estava com a farda de coronel do exército tcheco. Os manifestantes me levaram então a parlamentar com os ocupantes. Me dirigi a dois condutores de tanques do exército soviético, intimidados por minha patente e meus títulos esportivos, já que todos gritavam: "é o campeão olímpico..."
"De repente, um major chegou. Ordenou aos dois soldados que recuassem, enquanto eu interrogava o oficial para obter as razões desta agressão."
"Como esta tragédia é possível após vinte anos de amizade?, perguntei ao oficial. Ele se calou e me apertou a mão."
"De manhã, voltei para casa onde minha mulher Dana (campeã olímpica em 1952 de lançamento de dardo), cheia de preocupação, achava que eu tivesse sido preso pelos soldados soviéticos, como Dubcek."
"Um pouco mais tarde, fui convocado por meu superior, um general bastante favorável às reformas democráticas, que me disse que eu estava excluído do exército. Aos 45 anos, eu estava desempregado e somente emprego manual me era oferecido."
"Acabei a 600 metros sob a terra, em uma mina de urânio em Jachymov, 130 km ao oeste de Praga, capacete de mineiro na cabeça."
"Trabalhei lá quase seis anos, até 1974. Um belo dia, meu chefe me disse que eu tinha sido designado funcionário da administração. Meu purgatório tinha terminado..."