São Paulo - Assim como o técnico Muricy Ramalho, que trabalhou no futebol chinês em 1998, o cônsul do Brasil em Xangai, Júlio Victor do Espírito Santo, e o chefe do setor consular na embaixada do País em Pequim, Renato Lunardi de Amorim, afirmaram nesta terça-feira desconhecer o fato de que 20 jogadores de futebol brasileiros estariam vivendo em regime de cárcere privado na China.
O suposto caso foi veiculado no sábado pela rádio Jovem Pan. A reportagem dizia ainda que os jogadores tiveram seus passaportes confiscados e que o Itamaraty necessitou de seis meses para resgatar Maurício Cogo, de 29 anos, pedindo, inclusive, ajuda a membros do Partido Comunista Chinês.
"Esta matéria é de levantar os cabelos. Além de estar brincando, este jornalista deve ter crescido lendo muita espionagem, pois pensa que a China vive até os dias de hoje sob o Império Comunista do mal", rebateu o chefe do setor consular. "O desencadeamento da história é fantasioso, já que o Partido Comunista tem coisa mais séria para se preocupar."
Na China, crimes como seqüestro ou manter outro cidadão em cativeiro são punidos com pena de morte.
"Se este caso tivesse alguma veracidade, a natureza do trabalho diplomático nos impediria de falar. Mas vocês tiveram o cuidado de abordar o caso no condicional, dando maior enfoque ao retorno do Maurício Cogo", disse Amorim, que tinha em mãos, em Pequim, cópias das matérias do JT.
Com relação à situação de Cogo - contratado para ser o treinador das categorias de base de uma equipe da cidade de Guilim, quis voltar dois meses depois por não conseguir se adaptar à vida na China -, o diplomata disse ter cumprido somente suas obrigações de funcionário público.
"Damos assistência a todos os brasileiros que nos procuram. Este rapaz me ligou de Guilim pedindo para voltar ao Brasil. Parecia um pouco assustado, ao telefone, pois não tinha como fazer a reserva da passagem devido a problemas de comunicação."
Fato estranho O cônsul Júlio Victor do Espírito Santo adotou discurso semelhante ao de Amorim: "Colocaram coisas exageradas e a questão acabou tomando proporção que não teve. O Maurício não se queixou de maus-tratos, porém estava um pouco confuso e queria voltar. O único fato estranho é que ele veio para cá sem contrato assinado", explicou. "Mas não tenho conhecimento de nenhum outro caso envolvendo jogadores de futebol."
Maurício Cogo já está a caminho do Brasil e poderá ser convocado para prestar depoimento na CPI do Futebol em Brasília, segundo o senador Romeu Tuma (PFL). "Já falei com o relator (Geraldo Althoff), que se interessou pelo assunto. Mas o rapaz só terá de depor se fizer alguma grave denúncia referente a maus-tratos ou regime de escravidão", esclareceu Tuma.