São Paulo - Por trás da emocionante campanha do humilde time do Palmeiras existe um segredo. A equipe completou diante do São Paulo 87 jogos no ano, quantidade para impressionar qualquer jogador que atua na Europa. Só que para explicar a volúpia do time o mistério vai muito além da vontade dos jogadores de se firmar na carreira. O desmanche promovido pelo presidente Mustafá Contursi foi o presente que o preparador físico Carlos Pacheco recebeu e aproveitou como ninguém.
"Nós não estamos no final de temporada como as pessoas estão falando. Por questões de circunstâncias, formamos uma nova equipe em julho. Esse time não tem o desgaste de um ano como os outros. Tem metade das 87 partidas que o Palmeiras jogou. Essa é uma vantagem e tanto que soubemos administrar.
Juntando isso com a preparação adequada e mais a vontade dos atletas, a nossa equipe voa mesmo", confidencia Pacheco.
"Do grupo que disputou o primeiro semestre, só o Sérgio. O Arce estava operado. O Galeano tomou um fôlego de quase dois meses enquanto não renovava o seu contrato. Fernando não era titular absoluto. E os jogadores que vieram disputaram bem menos partidas do que nós nos seus clubes", relembra Pacheco.
Pouco tempo - Mas para administrar a situação Pacheco teve apenas dez dias. "O novo time entra em desvantagem em relação aos outros que estão no meio da temporada. Treinamos dez dias e tivemos de fazer várias adaptações para acelerar o processo físico. O trabalho foi excelente, buscando especificamente a força e a velocidade que Marco Aurélio precisava para que o time tivesse condições de jogar como ele desejava", relembra.
Pacheco e os fisiologistas Ivan Pizarro e Paulo Zogaib cortaram de imediato a creatina, substância que aumenta a massa muscular. Apostaram tudo em carboidrato, potássio, magnésio e vitaminas. A equipe proibiu a velha prática de os atletas usarem substâncias naturais, como mel e guaraná em pó.
Nada de usar areia para forçar a musculatura ou a famosa forca para dar mais impulsão. "Uso exercícios que simulam situação da partida. Não tem nada de imitar escola alemã ou escola americana. Uso muito a ciência nos exercícios.
Mas forço muito na psicologia. Os atletas têm de ser conscientes da necessidade de treinar e tomar os suplementos alimentares. Não sou babá de ninguém", diz Pacheco. No semestre passado, o técnico Luiz Felipe Scolari não confiava nos jogadores e perguntava várias vezes ao dia se haviam tomado creatina.
Os jogadores admitem que a preparação do Palmeiras foi otimizada. "Nós sentimos a diferença quando entramos em campo. Se não tivéssemos sido cuidados, com tanta preocupação não teríamos condições de entrar em campo terça, quinta, sábado e ir ganhando. Nossa condição física é a melhor possível", avalia Juninho.
Aos 37 anos, o preparador palmeirense é um dos mais novos de todo futebol brasileiro. Trabalha no clube há dez anos. Assumiu o posto de preparador principal em janeiro, depois de Mustafá ter demitido Paulo Paixão que foi para o Grêmio.
Racional, Pacheco sabe que só existirá motivo para festejar se o time vencer os campeonatos. "No futebol, o que marca são as conquistas. O trabalho foi muito bem feito, só que precisamos de títulos. Eles falarão por mim, já que eu sou péssimo de lobby. Se depender de mim, continuo trabalhando quieto no meu canto."