Brasília - Os senadores da CPI do Futebol vão questionar nesta quinta-feira o empresário J. Hawilla, dono da Traffic (intermediou o acordo entre Nike e CBF), sobre os lucros que a empresa divulga na mídia, como os R$100 milhões que teria faturado em 1998, e as prestações de contas que apresentou à Receita Federal nos últimos quatros anos. Seu depoimento começa às 9 horas. Um parlamentar que teve acesso a dados liberados pela quebra de sigilo fiscal da empresa, assegura que eles não combinam. A Traffic teria informado ao Fisco que sofreu prejuízo no ano passado. Nos três anos anteriores, a situação da empresa não foi tão ruim, mas fica longe do que seria esperado. O lucro declarado no período fica entre R$50 mil e R$100 mil.
No ano passado, em que teria havido o prejuízo declarado ao "Leão", o fundo de pensão norte-americano Hicks Muse Tate & Furst (HMTF) comprou 49% da Traffic. Nesta quarta-feira, os senadores ainda tentavam saber o valor dessa transação. O HMTF é o dono do Corinthians até 2009. O negócio foi intermediado pela empresa de marketing. O site da Traffic na Internet começa com a afirmação de que "em cerca de 20 anos de atuação no mercado, a Traffic Marketing Esportivo tem mostrado que é possível transformar o futebol brasileiro em um grande negócio.”
Seleção - A Traffic intermediou o contrato de patrocínio, de US$ 200 milhões, entre a multinacional Nike e a seleção brasileira, pelo prazo de 10 anos. Teria recebido nesse negócio uma comissão de US$ 10 milhões. É ainda a empresa que detém os direitos de televisão e comercialização da Copa América, da Copa Mercosul, além de ser a dona da programação de esportes da Tevê Bandeirantes. A CPI deve pedir a quebra dos sigilos bancário e fiscal de J. Hawilla, se ele não colocá-los espontaneamente à disposição, como é esperado.
Os números que serão conhecidos nesta quinta-feira foram obtidos, portanto, na abertura das contas da empresa e não na de seu dono. A comissão recebeu do Banco Central os extratos bancários da Traffic, mas ainda não obteve grande parte dos documentos que identificariam com quem ela movimentou dinheiro. A falta desses dados pode limitar o alcance das perguntas, mas não impedirá que a CPI avance em alguns aspectos. É o caso, por exemplo, de saber a razão de o presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ricardo Teixeira, ter negociado com a Traffic os jogos da seleção brasileira nas próximas duas eliminatórias das copas de 2006 e 2010. O contrato se estende além permanência de Teixeira na CBF - se é que ele está mesmo decidido a deixar o cargo - e por isso mesmo é tido como "antiético" pelos senadores.
Os parlamentares consideram "suspeita" a forma como a CBF privilegia essa empresa. Na avaliação deles, contratos como esse mostram a necessidade de se adotar no País uma lei que, à semelhança da Lei de Responsabilidade Fiscal, venha a impedir que dirigentes de entidades desportivas assumam compromissos que eles próprios não poderão cumprir.