São Paulo - Ele saiu do Brasil em julho, chamado de “pipoqueiro” pelo seu técnico na época, Luiz Felipe Scolari, do Palmeiras. Hoje, cinco meses depois de desembarcar na Europa e enfrentar o seu primeiro inverno sem ter feijão para comer, Roque Júnior, zagueiro titular do Milan, é o jogador brasileiro mais bem-sucedido da última leva que desembarcou na Europa. “Se eu quero voltar para o Brasil? Não, nem me passa pela cabeça, meu objetivo é vencer aqui também.”
Seu time pode hoje, em Milão, conquistar a quarta vitória consecutiva no Campeonato Italiano, diante do Lecce. E, quem sabe, ele volte a ser chamado pela imprensa de “São Roque.” Na vitória heróica contra o La Coruña, quarta-feira, na Espanha, pela Copa dos Campeões, Roque Júnior recebeu elogios explícitos do técnico do Milan, Alberto Zaccheroni. “Agora estou compreendendo melhor a forma de jogar daqui. Nossos movimentos em campo são bem mais programados que no Brasil”, conta. “Existe uma integração entre todos os setores do time bem mais rígida do que estamos acostumados.”
Uma vez assimilada a nova ordem, esse mineiro de 24 anos conquista a cada partida seu espaço no Milan. “Já consigo sincronizar meus passos com o da equipe e estou podendo pôr em prática a maior técnica de que dispomos.” As dificuldades com o idioma, para entender o que pretende Zaccheroni, têm sido superadas com aulas contínuas de italiano. “Si, capisco gia quello che dicono (sim, entendo já o que dizem)”, expressa o jogador para que o repórter perceba seu “domínio” do italiano. Em seguida é reprovado no teste proposto por ele mesmo ao não compreender uma pergunta em italiano.
Enquanto Leonardo, Serginho, Júlio Cesar e Dida, outros brasileiros do Milan, são eventualmente aproveitados por Zaccheroni, Roque Júnior não gera mais nenhuma dúvida no treinador: ganhou a posição. Enquanto muitos brasileiros enfrentam dificuldades para adaptar-se à Europa, Roque Júnior destaca a facilidade de vida proporcionada a um atleta do Milan. “Eles têm profissionais cuja função é resolver quase todos os nossos problemas fora do campo, a fim de que na hora do jogo nada nos atrapalhe”, diz.
O profissionalismo, a estrutura do clube, a capacidade de transformar tudo o que parece complexo em simples têm impressionado o zagueiro. “Eu diria que essa organização é a maior diferença para tudo o que vivia no futebol brasileiro, além da importância que eles dedicam à tática de jogo.” Roque Júnior sugere ser imune ao vírus da saudade que rapidamente se desenvolve no organismo de muitos jogadores que deixam o País. “Claro que o fato de eu poder também conviver com outros brasileiros aqui ajuda a enfrentar essa fase inicial, a mais difícil”, explica.
“Mas, independentemente disso, tenho mais cinco anos de contrato com o Milan, irei cumpri-lo e como vencedor.” Palavra de quem já foi campeão pelo Palmeiras da Libertadores em 1999, da Mercosul e da Copa do Brasil em 1998, do Rio São Paulo este ano e vice-campeão mundial em 1999.