São Paulo - Magoado com o vôlei brasileiro, Luiz Claudio Alves da Silva, o Lilico, está se preparando para decolar na carreira de jornalista e DJ. Ao anunciar que abandonaria as quadras aos 24 anos, o ex-jogador surpreendeu a todos, assim como já havia feito quando assumiu sua homossexualidade, no início do ano passado. E a polêmica deve continuar: Lilico vai lançar um livro no ano que vem no qual revelará histórias de bastidores."Não vou poupar linhas e nem pessoas", conta.
O ex-jogador afirma que parou porque está saturado e que chegou a pensar em suicídio. "Até duas semanas atrás estava tomando tranqüilizantes para dormir." Mas o "novo Lilico" está empenhado com a nova fase de sua vida:
"Por enquanto quero curtir minha casa e ver se meus projetos na televisão vão dar certo. Não voltaria a jogar nem se pagassem cinco vezes mais."
JT- Você tem só 24 anos, por que terminou sua carreira de forma tão repentina?
Lilico - Não foi de repente. Só foi uma surpresa para a imprensa, mas eu já vinha comunicando jogadores e dirigentes. Queria ter parado desde 1997, quando estava no Palmeiras. Estou saturado de vôlei, quando ligo a televisão e está passando um jogo de Superliga, assisto uns dois pontos e mudo o canal. Me estressou de tal forma que não agüento mais. Isso foi o acúmulo dos últimos 10 anos jogando. Ir para o Japão foi bom, mas lá havia cobrança por ser estrangeiro. O fato de não ter sido convocado para a Seleção também incomodava, mas o que me abalou mesmo eram as fofocas e comentários. A situação ficou chata.
Com a carreira encerrada, agora você afirma que ficou de fora da Seleção por discriminação?
Não conheço outra palavra. Não devo mais nada para ninguém. Infelizmente a Seleção usa uma máscara. Ou você está na "panela" ou não está, e eu não trabalho com "panela" . Na época em que foi convocado aquele grupo de 1998/99, terminei como o melhor pontuador da Superliga, jogando pelo Barão de Ceval, de Blumenau. Disseram que eu não tinha condições, que havia jogadores melhores. Mas como? Se eu estava jogando o All Star Game, em Salvador, que só tem os melhores, e depois de 15 dias, quando saiu a lista eu nem fui chamado para treinar entre os 18? Explicação agora? Vai é ficar para o resto da vida porque eu parei de jogar e o Radamés Lattari não é mais o técnico.
Você acha que deveria estar no grupo?
Neste de agora não, mas quando liderava as estatísticas, sim. Nunca fiz questão de Seleção, só queria meu trabalho valorizado. Poucos sabem que vim do Rio de Janeiro para São Paulo para estudar e que posso ser professor até a 8ª série. Mas o vôlei aconteceu... passei a ganhar bem, a viajar e me envolvi nesse mundo de ilusão. O vôlei não passa de um mundo de ilusão.
Todos acham que é bonito, mas ninguém sabe o que um atleta passa, como é o calendário, a `ralação'.
Doa a quem doer E os planos?
Vou gravar o piloto do meu programa no dia 5 de janeiro na boate SoGo, com o DJ Marcelo Saturnino, que estou negociando com três emissoras. Será um programa voltado para a Disco Music, mas que será previamente gravado e terá flashes ao vivo. Gostaria de trabalhar como comentarista de vôlei, mas só se fosse em estúdio. Também vou escrever um livro sobre a minha vida. Sei o que acontece e quem é quem. Se passou pela minha vida vai passar pelo livro, doa a quem doer. Chegou ao ponto de um técnico de um time grande, que não existe mais, me ligar e dizer: "Se você vier para cá e sair comigo eu pago mais."
Vou ser bem claro e dar nome aos bois. Não tenho culpa se a pessoa me ligou perguntando o que fazer sobre assumir ou não a homossexualidade. Vou citar alguns nomes não só do vôlei, mas do atletismo, futebol e outros.
Então o que o vôlei deixou de bom e de ruim?
A parte boa corresponde a uns 20%, que é ganhar dinheiro e muitos títulos.
Mas eu não ganhei tanto dinheiro. Nos últimos três anos tive uma vida boa, não excelente. A parte ruim foi o proconceito, as intrigas e o estresse. Até uma semana atrás estava tomando tranqüilizantes para dormir. Cheguei a pensar em suicídio, fiz terapia. Mas não suportava mais o fato de ter de jogar, não me dava prazer e estava me sufocando.