Rio - As declarações do técnico Luiz Felipe Scolari, depois do adiamento da partida entre Vasco e Cruzeiro pelas semifinais da Copa João Havelange, de que o futebol brasileiro estaria falido fez crescer uma polêmica entre os treinadores. A questão de um novo planejamento do calendário e a desorganização administrativa do futebol sempre voltam à tona no fim da temporada, quando os jogadores estão esgotados pela exaustiva
seqüência de jogos e as liminares ganham mais destaque do que as partidas decisivas.
A Agência L! Sportpress procurou alguns profissionais da área para que eles opinassem sobre os problemas do futebol brasileiro, e para que dessem algumas soluções para o caso.
Eevaristo de Macedo (Técnico do Bahia e ex-técnico da Seleção Brasileira) - "Os clubes brasileiros tem uma grande dificuldade em honrar seus compromissos. É freqüente se ver jogadores e funcionários entrando com ações na Justiça do trabalho para conseguir receber salários atrasados, como aconteceu recentemente com Bebeto e o Botafogo-RJ. Os clubes precisam se organizar para trabalhar dentro de um orçamento pré-estabelecido, resultado
de um planejamento. O futebol brasileiro ficou inflacionado com a volta dos jogadores da Europa. Eles saíram daqui ganhando R$ 30 mil e passaram a receber R$ 150 mil lá fora. Quando voltaram, continuaram recebendo esses valores, irreais para a realidade brasileira e que causam um desequilíbrio entre despesas e receitas. O excesso de contratações sem planejamento também colaboram para o déficit nas contas dos clubes."
Telê Santana (Técnico da Seleção Brasileira nas Copas de 82 e 86) - "O Luiz Felipe Scolari está certo. Falta planejamento para que haja uma adequação dos gastos à receita. Alguns clubes querem pagar salários que só existem no exterior, mas não têm como arcar com as despesas durante todo o ano. A situação é preocupante e é necessário que se faça uma reavaliação no modo de comandar o futebol brasileiro."
Carlos Alberto Parreira (Técnico da Seleção Brasileira na Copa de 94) - "Essa desorganização não é novidade. O sentimento é de que o futebol só vai bem dentro do campo, pois fora a situação é cada vez pior. O problema com o calendário e a organização dos campeonatos é muito antiga e não se consegue encontrar uma solução viável para o caso. Tanto que a Fundação Getúlio Vargas (FGV) passou 8 meses estudando o caso, amparada por profissionais especializados, e, apesar de conseguir identificar os problemas, não encontrou soluções. A doença foi detectada, mas ainda falta achar o remédio."
Sebastião Lazaroni (Técnico do Botafogo e da Seleção Brasileira na Copa de 90) - "Esse problema é antigo. Na década de 50, o Flávio Costa já reclamava, dizendo que o problema do futebol brasileiro era fora de campo. A primeira coisa a ser feita é definir quem é o responsável pelo futebol no Brasil. Sempre que há um problema, não se sabe a quem recorrer. O futebol precisa ser tratado de forma transparente e racional. O Sindicato dos Treinadores do Rio de Janeiro montou um grupo de estudos para tentar encontrar formas de
otimizar o calendário brasileiro. Vamos ver se dessa vez aproveitam as idéias que surgiram."