Camboriú, SC - É na zona rural da cidade de Camboriú, em Santa Catarina, debaixo de muito pó e sob as palavras de incentivo e o rigor do técnico Larri Passos, que Gustavo Kuerten se prepara para defender o título de número um do mundo.

A academia Larri Passos Tênis Pró fica no meio de várias chácaras, acessível somente por ruas de terra. O silêncio no local só é interrompido pelas batidas de bola e pelas risadas dos tenistas.

Ao lado dos israelenses Harel Levy, Eial Erlich e Noan Okum e de vários brasileiros, entre eles Andre Sá e Antonio Prieto, Guga deu início aos treinos para o ano de 2001 na segunda-feira sob o sol da pequena cidade de Santa Catarina.

Quem olhar com atenção verá que não existem cadeiras na quadra de saibro em que treina. Sentar é uma atitude proibida por Larri Passos, assim como parar para atender celulares. E quem desobedecer às regras ou reclamar de qualquer coisa não escapa do castigo: uma sessão de flexões de braço ao final do treino.

Antes, porém, de pagarem pelo erro, a palavra de ordem é trabalhar a mente e a motivação dos jogadores. Logo depois de recolherem eles mesmos as bolinhas, dispensando os tradicionais catadores, Guga e os tenistas dão voltas na quadra de olhos fechados. Aí entra em cena a voz de Larri.

Entre as ordens, sempre em inglês por causa dos estrangeiros, o técnico os manda pensar na melhor devolução, no melhor backhand, e que eles amam o tênis. Alguns permanecem de olhos fechados, outros não, mas nenhum se atreve a parar.

``O trabalho de motivação é uma parte muito importante, o exercício de fortalecimento mental é fundamental, porque se eles fizerem isso no treino vão lembrar na hora do jogo'', explicou Larri Passos.

É nesse ritmo que Guga treina cerca de oito horas por dia, cinco só na quadra, ouvindo as palavras cuidadosamente escolhidas pelo técnico. Ele até gostaria de ter mais tempo de férias para curtir a família, mas sabe a importância de treinar para continuar como número um do mundo.

``A gente vive o ano todo sem feriado ou fim-de-semana, mas vai dar para treinar bem e se preparar. Se tivesse um pouco mais de tranqüilidade para curtir a família seria legal, mas a gente se adapta'', disse Guga.

Para facilitar os treinos, Guga mantém um apartamento em Camboriú, que fica a cerca de uma hora de carro de Florianópolis, onde vive sua família.

Guga vai treinar por mais dez dias nas quadras de saibro da academia do técnico, e depois se prepara para o Aberto da Austrália, que será disputado em quadra rápida, em Itapema, uma cidade praiana da região, no Hotel Plaza Itapema.

O tenista catarinense quer deixar para trás o Aberto da Austrália deste ano, quando caiu na segundo rodada, e tem grandes expectativas para o primeiro Grand Slam da temporada, que começa em 15 de janeiro.

``Este ano a expectativa é melhor, quem sabe agora posso mudar'', disse o tenista, que neste ano conquistou o primeiro título de sua carreira em quadra rápida. O piso preferido de Guga é o saibro da academia de Larri Passos e de Roland Garros, onde conquistou seus dois Grand Slams.

A única folga de agora até o dia 7 de janeiro, quando embarca para a Austrália, será para comemorar as festas de fim de ano.

Nem a saudade das ondas de três a quatro metros, que Guga jurou ter pego em Havaí, será forte o suficiente para tirá-lo da quadra -- apesar de o mar estar bem ali, a apenas alguns quilômetros.

Reuters