Rio - O Rali Paris-Dakar é considerado um dos
mais difíceis do mundo, principalmente pelos seus desafios naturais como as
dunas, as pedras e os buracos. Mas olhando as estatísticas, os competidores
descobriram que precisam ficar atentos à outras ameaças: os assaltos e os
ataques terroristas têm se caracterizado como mais um desafio a ser superado
pelos pilotos.
Os brasileiros André Azevedo, Klever Kolberg, Juca Bala e Luiz
Mingione sabem disso e se preparam para a prova, que começa no dia 1º de
janeiro. Em 1999, uma emboscada de rebeldes fez com que 50 pilotos e
jornalistas ficassem a pé. Dois caminhões, três carros e uma moto foram
roubados, além de equipamentos de trabalho, como notebooks, telefones via
satélite, máquinas fotográfica e de vídeo, dinheiro, roupas, alimentos,
ferramentas, pneus e combustível.
Um ano antes, o tcheco Tomas Tomecek, hoje navegador do brasileiro
André Azevedo num caminhão Tatra, foi uma das vítimas quando liderava a
prova, ao atravessar a Mauritânia, e teve seu caminhão roubado. Na última
edição da prova, em janeiro deste ano, uma ameaça de atentado obrigou a
caravana do rali a atravessar o Níger em aviões.
“O maior problema está na Mauritânia, um dos países africanos que
serão atravessados durante o rali de 2001. O governo local garantiu à
organização da prova toda a segurança aos participantes, mas essa promessa
mais parece uma piada. Na África, estamos no fim do mundo”, conta Klever
Kolberg.
Segundo os experientes Klever e André Azevedo, que já acumulam 13
participações, os pequenos furtos sempre aconteceram nos acampamentos do
rali, mas nunca houve nada com a intensidade e freqüência constatadas nas
edições mais recentes. Para combater esses ataques,
Klever destaca a comunicação rápida como uma ferramenta fundamental.
“Num assalto, por exemplo, conseguir falar com a organização o
quanto antes é necessidade básica. Afinal, ficar a pé no deserto é muito
perigoso e as conseqüências podem ser seríssimas”, disse o brasileiro.
Para não correr riscos, os veículos dos brasileiros - o Mitsubishi
Pajero de Klever e o caminhão Tatra de André - são equipadas com um sistema
de monitoramento via satélite que, além de permitir a localização do
veículo, dá aos participantes a possibilidade de emitir um sinal de
emergência que pode salvar a vida dos pilotos caso eles precisem de um
resgate.
“Isso já nos deixa bem mais aliviados, mas ainda vamos ficar
preocupados com o Juca Bala e o Luiz Mingione, já que nas motos não há
espaço para instalarmos o sistema de rastreamento”, explicou André Azevedo.
Por causa desses assaltos, os organizadores mudaram completamente o
roteiro da prova em 2000, que ligou Paris a Dakar e depois ao Cairo, para
evitar as regiões mais perigosas. Mas esta medida, apesar de ter conseguido
evitar o risco dos roubos, acabou colocando o rali na direção de um dos
maiores e mais agressivos movimento guerrilheiros da atualidade, o GIA
(Grupo Armado Islâmico).
A possibilidade de um ataque terrorista à caravana do rali
Paris-Dakar-Cairo 2000 fez com que a organização da prova tomasse medidas
extremas de proteção aos competidores. O rali foi interrompido e toda a
caravana foi transportada via aérea para fora do território do Níger, direto
para a Líbia. No total foram transportados 113 carros, 143 motos, 64
caminhões, 16 veículos de imprensa e 1.365 pessoas. Em quatro dias, todo
esse equipamento foi embarcado num super cargueiro aéreo que atravessou uma
distância de 2000 quilômetros. Para os competidores foi fretado um Boeing
747.
A questão dos assaltos está tomando proporções perigosas e Klever
espera que neste ano a organização e os exércitos locais consigam garantir a
segurança dos pilotos. “Na África, atravessamos regiões de grande miséria. Quando estamos
dormindo, os ladrões cortam as barracas e puxam o que podem lá de dentro.
Normalmente, os exércitos locais protegem os acampamentos, mas é melhor
colocar tudo em uma mochila ou no carro. Mas nos dois últimos anos, eles
chegaram armados e todo mundo teve de entregar tudo para sair vivo. E o pior
é que isso já está virando rotina”, lamenta o piloto.