Rio - Petkovic sonha alto. Certo de que os tempos em que tinha dificuldade para agradar aos técnicos, à torcida e aos dirigentes do clube já fazem parte do passado, ele parte para uma nova meta: inscrever seu nome na lista dos principais jogadores em atividade no futebol brasileiro. A felicidade também se deve ao momento de liberdade que, finalmente, a Iugoslávia volta a viver. Assim como a guerra deixou marcas no povo de seu país, os problemas de adaptação no Flamengo marcaram Petkovic.
”Eu sonho alto e quero ser um dos grandes jogadores do Brasil. Estou há três anos no país e acho que finalmente consegui que as pessoas aprendessem a apreciar meu futebol. Tanto torcedores quanto técnicos e dirigentes “, disse.
Ao falar de sua nova fase, Petkovic não mede palavras para apontar os que, na sua opinião, foram culpados por seus problemas.
”A imprensa não teve paciência, os técnicos também não. Isso refletia na torcida. Eu não tive nenhuma compreensão dos treinadores e dos dirigentes. Foi preciso que o vice-presidente de futebol do Vitória, Valtércio Fonseca, viesse conversar com o presidente do Flamengo para saber o que estava acontecendo e explicar como eu sou. A partir daí, o tratamento mudou e eu passei a jogar bem.”
Petkovic jura que jamais exigiu um tratamento de estrela.
”Agora estão entendendo que sou uma pessoa simples, que não exigia nada diferente dos demais jogadores. Não me julgo estrela. Só que, quando vejo uma coisa errada, eu falo, não me calo. Eu sabia que, por causa da adaptação ao calor do Rio, meu regime de treinos tinha de ser diferente. O Toninho Oliveira, preparador físico, já tinha trabalhado comigo no Vitória e sabia disso. Eu treinava menos lá. Só que davam ouvidos a quem não entendia isso e tive problemas internos no clube”, explica.
Petkovic não hesita nem mesmo ao falar que nenhum dos técnicos que antecedeu Zagallo no Flamengo soube aproveitar o seu futebol.
”Só o Zagallo me entendeu totalmente. O Carlinhos só começou a compreender as coisas pouco antes de ser demitido. O Carpegiani errou e até ele já sabe disso. Tentou implantar um sistema europeu e não privilegiou o único jogador que tinha cultura européia.”
Agora Petkovic se prepara para o desafio de levar o Flamengo ao tricampeonato estadual.
”No ano passado, me doía saber que eu passaria as finais no banco. O time venceu e fiquei feliz. Se perdesse, eu não perdoaria ninguém. Agora, perdemos Denílson e Alex por razões que desconheço. Eles podiam nos ajudar. Mas quem está aqui pode dar bons resultados.”
Nas férias, Petkovic esteve na Iugoslávia. Encontrou um país que busca a própria reconstrução.
”O povo teve o melhor Natal dos últimos dez anos. Houve pouco tempo para profundas transformações após as eleições. Pelo menos, mesmo com a pobreza, já que o país foi muito roubado, as pessoas estão mais felizes, mais livres, gastando o dinheiro que têm porque sabem que a situação vai melhorar”, diz o jogador, com ar de satisfação.