Brasília - Afastada da linha de frente do esporte brasileiro desde o início do semestre passado, quando perdeu espaço para o Clube dos Treze (a associação que reúne 20 dos principais clubes do país), a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) decidiu comandar a reestruturação do futebol nacional e iniciará as mudanças reassumindo a organização do Campeonato Brasileiro de Futebol.
''Será preciso ousadia e determinação para resgatar o prestígio e a força do nosso futebol'', diz o presidente da CBF, Ricardo Teixeira.
Os planos da CBF - que incluem a criação de um rigoroso calendário para o futebol brasileiro, a partir deste ano - serão apresentados na assembléia anual da entidade, no próximo dia 22, no Rio de Janeiro, quando também será analisado o balanço da instituição do ano passado. O presidente da CBF decidiu ainda dar todo apoio às ações do ministro da Justiça, José Gregori, para melhorar a segurança nos estádios brasileiros.
O ministro Gregori já anunciou sua intenção de incluir Ricardo Teixeira entre as pessoas que convocará para discutir, em Brasília, a questão da segurança nos estádios. Teixeira apresentará ao ministro a idéia de criação de uma linha de financiamento, no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), para modernização e dos principais estádios de futebol do país. A arrecadação dos jogos, imagina Teixeira, poderia ser uma das garantias aos empréstimos.
Os acontecimentos do dia 30 de dezembro, no Estádio de São Januário, levaram a cúpula da CBF a concluir que os clubes não têm condições, pelo menos no Brasil, de organizar o Campeonato Brasileiro. Nas duas vezes em que os clubes assumiram a incumbência, observou um dirigente da CBF, o campeonato terminou sem um campeão. Foi assim em relação à Copa João Havelange do ano passado e à Copa União, de 1987, quando o campeão do módulo principal da competição, o Flamengo, se recusou a decidir o título com o campeão de outro módulo, o Sport.
''Não havia sequer um dirigente do Clube dos Treze, em São Januário, para entregar a Taça ao campeão'', critica esse dirigente da CBF. Ele lembra que, nas decisões da Copa do Brasil ou do Campeonato Brasileiro, organizados pela CBF, o troféu sempre foi entregue ao campeão por um dirigente da entidade presente ao jogo final - algumas vezes o próprio presidente Ricardo Teixeira.
A decisão da CBF de reassumir a organização do Campeonato Brasileiro, a partir da competição deste ano, já está tomada, mas só será tornada público depois de conversações do presidente Ricardo Teixeira com os clubes e as federações. Ele pretende agir com cautela, para evitar atritos desnecessários com os dirigentes. A retomada da tarefa de organização do Campeonato Brasileiro faz parte da ofensiva que a CBF pretende deslanchar, nos próximos dias, para liderar a reestruturação do futebol brasileiro. Ricardo Teixeira entende que o futebol brasileira atravessa uma de suas crises mais graves e por isso ele acha que só com uma liderança forte e determinada será possível vencer a situação. A CBF, diz Teixeira, é a única entidade com respaldo e autoridade para realizar essa tarefa.
A missão a que a CBF se propõe vai de encontro às idéias do presidente da CPI do Futebol no Senado, Álvaro Dias (PSDB-PR), para quem a entidade não deveria ter transferido a organização do Campeonato Brasileiro ao Clube dos 13 no ano passado. ''Por lei, o Estado delegou à CBF a autoridade para organizar o futebol brasileiro. A CBF não poderia ter aberto mão dessa sua prerrogativa'', afirma o senador paranaense.
A decisão da CBF de retomar suas atribuições significa um golpe nas pretensões do Clube dos Treze de criar uma liga para organizar o Campeonato Brasileiro. O fracasso da Copa João Havelange ajudou a firmar um consenso, entre os dirigentes da confederação, de que os clubes de futebol no Brasil ainda não tem maturidade e capacidade para administrarem competições de âmbito nacional.
''A Copa João Havelange mostrou que, à medida que os clubes vão sendo eliminados da competição, seus dirigentes esquecem o torneio, deixando os seus problemas para os clubes que permaneceram no campeonato. Isto cria uma situação desigual quando um clube grande vai à final contra um clube pequeno, que fica desamparado para enfrentar o rival'', comenta um dirigente da CBF, que prefere não se identificar para não se indispor com os clubes.
A direção da CBF pretende divulgar logo um calendário para o futebol brasileiro neste ano, o que significa o anúncio, em breve, da forma de disputa do Campeonato Brasileiro. A grande questão a ser resolvida é o número de clubes e a decisão contará com a participação do departamento jurídico. Ricardo Teixeira já transmitiu aos seus comandados uma rígida orientação para evitar qualquer soluções que possam vir a provocar questionamentos jurídicos.
A CBF não quer, de forma alguma, que o campeonato deste ano seja conturbado por disputas judiciais, como ocorreu no ano passado, quando as ações impetradas pelo Gama atrasaram a preparação do torneio e levaram a CBF a outorgar a tarefa ao Clube dos Treze. Ricardo Teixeira não diz mas demonstra arrependimento por ter deixado o Clube dos Treze coordenar a Copa João Havelange, que enfrentou problemas desde seu início.
Para não alimentar controvérsias, Ricardo Teixeira se esquiva de falar em número e nomes de clubes participantes do primeiro Campeonato Brasileiro do século. É praticamente certo, porém, que a escolha dos participantes se baseará na lista dos clubes que disputaram o módulo azul da Copa João Havelange. Também há uma tendência na direção da CBF de incluir o São Caetano, em função de sua campanha na fase final da Copa João Havelange, que levou o clube do ABC paulista a disputar a Taça Libertadores.
O campeonato deste ano terá rebaixamento à segunda divisão e a partir da competição do próximo ano a definição dos clubes que participação do torneio levará em conta um ranking a ser elaborado conforme os critérios definidos no estado elaborado pela Fundação Getúlio Vargas e apresentado publicamente num encontro em dezembro passado.